“O amor começa quando uma pessoa se sente só e termina quando uma pessoa deseja estar só.” (Leon Tolstói)

Acordei! A primeira coisa que fiz foi me espreguiçar e logo que abri os olhos agradeci por aqui estar. Tomei meu banho gelado e fiz meu café amargo. Li as notícias procurando por paz, não as encontrei. Pus a água adoçada para meus visitantes de todas as manhãs; eles nunca deixam de vir. Coloquei na vitrola um disco aleatório e sentei para me lembrar de tempos notórios. O som me levou para meus amigos de infância, aos quais, em nenhuma instância, julguei ao longo do  tempo por o ter aproveitado em abundância. A melodia seguia e as lembranças dos meus irmãos aparecia. Brigas, discussões e afetos. Logo, aprendizados e amores despertos. Momentos de trocas e descobertas. Primeiro beijo e carícias entre cobertas. Uma lágrima ao terminar a última canção. É hora de se por em ação! Uma massa e um bom vinho. Mesa para um. Sozinho! Um doce para adoçar e mais uma lembrança a se aguçar. Aquela viagem! Aquele sonho! Um momento a se compartilhar de quem nunca, jamais, quis me separar. Mas não deu. O marejar dos olhos foi um efeito do vinho ou mais uma memória vindo? Sou eu, sensível por assim estar. Uma pestana para me recompor e sonhar sem pudor. Ao recobrar a consciência o corpo não tem mais ciência do quanto a gravidade está em cena. E levantar já não é a mesma coisa quando se tinha 40. O entardecer me faz ler um romance para me entreter. Novos visitantes vem me pedir migalhas de pão e eu, sem perceber, queria o mesmo no coração. Gritos pela varanda, apostas de corrida e cheiro de lavanda. A casa vazia deixava o eco perfeito para as memórias que o sino dos ventos trazia. Filhos e netos! Todos os dias! Não mais! Jantares e festas foram cessando e o tempo passando. A solidão é companheira do vazio mas não me sinto sozinho. Toda vez que paro para pensar estou acompanhado. Isso conforta meu ser. Reclamar para que, se eu posso viver?   O anoitecer me traz a segurança de que tudo passou. Esquento minha sopa e vejo no calor os vultos passarem a todo vapor. Um banho quente para relaxar e deixar passar os nós que não desatei. Um travesseiro macio que sozinho na cama me espera mas que eu não esperei. Mais uma noite sem o calor de um corpo e nem um pouco de outro rosto. Apenas um boa noite era o que eu queria, mas nem tudo se podia naquele espaço sem cortinas. O sol entraria novamente pela manhã me trazendo um pouco mais de tempo. Mas, para que? Não sei! Novas lembranças ou a mesma rotina? Certamente não sei! Mas terei as mesmas visitas procurando um pouco de minha atenção diária. Por isso acordo, novamente, para retribuir de forma necessária a sua companhia. O teto se faz distante assim como as memórias naquele instante. Não mais dor, seja do que for! Agradecido estou e assim vou me deixando levar pelo vento do tempo nesse barco em alento.

Autoria: Leonardo Campos