A BELEZA DE SER UM ETERNO APRENDIZ
“A beleza de ser/Um eterno aprendiz” (Gonzaguinha)
Em março de 1990, numa pequena cidade do interior de Minas, eu estava cansada, olhos vermelhos, coração acelerado, sem fome… Os colegas mais próximos já tinham recebido a notícia – o resultado do concurso havia saído. Muitos comemoravam, outros estavam arrasados… Eu já tinha ido na banca de jornal duas vezes. Meu pai dizia: “não adianta o jornal ainda não chegou” . Todos os domingos, ele ia buscar o jornal, sempre na mesma hora, com as paradas de sempre para cumprimentar os amigos. Aos poucos eu acordei a casa toda, os sete irmãos foram para a cozinha, mas, diferente dos outros dias, o silêncio reinava…Nós, ali sentados, à exceção do meu pai, que havia saído para buscar a notícia tão esperada. Naquele tempo estudávamos nas melhores escolas, as públicas, e ganhávamos o passaporte para entrar nas universidades, que também eram públicas. O ensino diferenciado nos capacitava para os concursos, e passar num deles era o sonho dos universitários. Minha cabeça girava! Minha boca estava seca! Meu pai entrou com o jornal dobrado embaixo do braço e o colocou sobre a mesa. Como animais famintos em cima de uma caça, cada um puxou uma folha. “Está aqui, olha o resultado!” Vi uma lista de nomes, eram muitos, e não consegui encontrar o meu. Triste, fui para o canto da cozinha, o calor do fogão a lenha me acalmava. De repente ouvi um grito, fino, forte, da minha irmã mais nova: “Seu nome está aqui, você passou!!!!” Quase paralisada eu caminhei até o jornal com o coração disparado e vi, li, reli, eu tinha passado no concurso da maior empresa do Brasil. Da pequena cidade do interior eu iria para a capital. Em segundos, senti o calor dos braços fortes ao redor do meu pescoço, o orgulho estava estampado no olhar de cada um, chorando, gargalhando, pulando… Foi assim que comemoramos… Entrar para a maior empresa do país era o orgulho de toda família! Radiante, comecei a trabalhar e, no meu primeiro dia de trabalho, eu ouvi que “os empregados eram o maior valor de uma companhia!”. Passei anos ouvindo isto e me orgulhando de fazer parte da força de trabalho, de me sentir útil, de contribuir com as metas. O conhecimento era respeitado, empregados especialistas eram demandados e reconhecidos. A força do conhecimento estava sempre presente nos vários grupos que eram criados para resolver questões técnicas mais complexas. Quantas vezes eu ouvi empregados explicando pacientemente o funcionamento dos intrincados equipamentos da indústria do petróleo. Davam aulas e propunham soluções que com certeza geraram muito valor para a empresa. Até hoje eu me recordo do brilho nos olhos e do orgulho deles ao propor de forma simples soluções para problemas, que drenavam o resultado arduamente conquistado nas frentes de trabalho. Também vi muitos gerentes experientes liderando suas equipes. As habilidades de cada um eram extraídas e as pessoas eram cuidadosamente colocadas nos locais onde pudessem se orgulhar do resultado do seus esforços e da dedicação ao trabalho. Dedicação que era reconhecida por todos os brasileiros. Sempre que a resposta à pergunta “onde você trabalha?” era dada, cumprimentos e comentários de que era uma grande empresa inflavam os peitos dos empregados. Os anos foram passando, a corrupção devorou o valor da empresa, reestruturações em busca da otimização dos resultados foram acontecendo. Consultorias externas eram contratadas e embaralhavam as caixinhas gerenciais com o intuito de tornar a empresa mais “moderna”, na busca da maior eficiência. Aqueles empregados mais experientes, conhecedores das entranhas dos processos e da empresa foram colocados de lado. Afinal de contas, o desejo era de mudança, então por que não começar a mudar o conceito do empregado ideal. Aqueles mais experientes e detentores de vasto conhecimento técnico foram retirados de postos chaves de trabalho, dando lugar aos mais jovens, muitas vezes pouco questionadores, afiados com o status quo e no anseio de manter seus cargos e a remuneração diferenciada. O objetivo era reduzir a motivação nata dos mais experientes a permanecer no quadro de empregados. Afastados de seus desafios, assumiam tarefas pouco desafiadoras e se transformavam em empregados fantasmas ou zumbis. Sentados em suas baias passaram a contar os minutos para o término do expediente, muito diferente do tempo em que viravam noites no enfrentamento dos desafios. Depois de criar o rebanho de desmotivados, se tornava necessário alimentá-los com aquilo que se tornaria o passaporte para a tão sonhada liberdade, a caça oferecida aos famintos empregados não era um desafio profissional, era uma indenização. O dinheiro compra tudo! Com certeza não. A indenização não traz a dignidade profissional de volta, não traz o orgulho do pertencimento à empresa, não afoga o desejo da condução de projetos. Por outro lado, o grupo de empregados sempre atendeu aos inúmeros pedidos de socorro da corporação, seja superando pioneiramente desafios tecnológicos como a produção em águas profundas, ou o equacionamento da dívida gerada pelo profundo esquema de corrupção que abateu a empresa. Resta então a esperança de que a ruptura causada pela verdadeira debandada de conhecimento, seja resgatada pelos novos soldados da companhia que terão que se superar, se inspirando nos heróis que lhe cederam o lugar! Depois de 30 anos, aquela jovem que esperava, desesperadamente, o tão sonhado lugar na companhia comemora hoje a liberdade trazida pela aposentadoria. Ciente do desafio que o grupo de empregados enfrenta, a torcida hoje é que eles se reinventem lá dentro porque com certeza existe vida depois da catraca e como canta Gonzaguinha é hora de …
“Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz”
Autoria: Venina Velosa da Fonseca
Autor citado: Gonzaguinha
Espero um dia Ser metade da mulher e trabalhadora que você foi.
Não faltam razões e justificativas para que vc, Sofia, se orgulhe de nossa colaboradora Venina V. da Fonseca. A equipe OmnisVersa sabe que há um profundo orgulho dela por vc, também. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Quanta delicadeza e sutileza foram Utilizadas para tecer este texto, que nas entrelinhas puxa muitas orelhas De Pessoas ‘levadas’!
Parabéns!!!
Há pessoas que possuem dons escondidos. As vemos de forma até brilhante em determinadas áreas, enquanto elas escondem ainda mais brilhantismo em outras. Nossa colaboradora Venina V. da Fonseca tem essa capacidade literária escondida. A equipe de OmnisVersa se sente honrada de trazer essa faceta da nossa colaboradora ao público. Geralda, Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
O dinheiro nao compra amigos, admiracao que tenho por voce…. na certeza de que ainda vem coisa boa por ai….. bora la viver mais Um cadinho
Estaremos encaminhando seu comentário à autora. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Não tive ainda o prazer de conhecer a autora ! Uma mulher da mais alta qualidade profissional!
EM contrapartida , vejo uma total semelhança com alguém do Grupo, que mora no meu coração
Fernando Castro de Sá é um exemplo a ser seguido! Nunca abandonou seus ideiais ou suas convicções!
Parabéns a esse brilhante Grupo , que Só reuniu gente talentosa , que nos serve de inspiração!
A equipe Omnisversa agradece seu comentário, Maria, e, certamente, o encaminhará aos colaboradores citados. Este é um projeto que busca trazer conhecimento e reflexão para que as pessoas tenham uma vida boa. Os colaboradores são pessoas que possuem o mesmo intuito. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
olhar para a sua carreira profissional e poder expor publicamente não é para qualquer profissional, é somente para aqueles que a viveram de corpo e alma, de forma honrada e altiva! Parabéns!
Estaremos encaminhando seu comentário à autora. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
É isso aí Nina! Bora aproveitar o que a vida tem de bom . E vc merece, depois de tantos anos de dedicaçao. Tenho muito orgulho Do seu legado, suas escolhas nesse percurso dificil e rico ao mesmo tempo. E vc com essa capacidade de se reinventar, esta ai mostrando mais uma faceta, Uma capacidade de orquestrar as palavras para nos emocionar. Lindo texto
Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Parabéns, Venina Velosa Da Fonseca, por descrever nesse texto o quão eficazes eram as escolas públicas do nosso tempo de estudantes. Não que hoje não haja mais; mas são raras.
A sua boa formação aliada ao berço cheio do carinho de seus pais e irmãos (sou prova viva disso), bem como sua dedicação aos estudos veio coroar com a tão sonhada aprovação em concurso tão almejado.
Como me orgulho de você, Venina! Em meio a inúmeras provações, não só demonstrou como provou a sua integridade e honradez durante toda sua trajetória na carreira que abraçou.
Hoje chegou o seu dia de “Viver e não ter a vergonha de ser feliz…”
Em proporções infinitamente menores, me vejo descrita nesse texto.
Quando ingressei na Educação, nós professores, fazíamos tudo com e por amor à profissão.
E no decorrer dos anos nos vimos desvalorizados e substituídos (salvo raras exceções) por pessoas despreparadas.
Triste realidade!
Estaremos encaminhando seu comentário à autora. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Ser um eterno aprendiz é ser um sonhador ….mas não só isso é realiza-los seguindo seus valores e não so se levar pelas expectativas dos outros. É lutar pela sua descoberta e saber que você tem capacidade…poder.
Ser eterno aprendiz é quebrar ou melhor passar pelas barreiras que a vida nos apresenta não deixando a idade, o ambiente poluido nos parrar…. E que abaixar a cabeca ou ficar calado não quer dizer sempre que concordamos e sim apenas nos reestruturamos pra seguir da melhor forma.
Ser um eterno aprendiz é sempre lutar pelos seus objetivos ….é ser guerreiro.
Muito obrigada pelas palavras guerreira.
Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Venina, traduziu com maestria sentimentos coletivos.
Siga escrevendo nos traduzindo, nos instigando, nos emocionando.
Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto. Omnisversa espera contar com outros textos maravilhosos desta colaboradora.
Já é um orgulho e uma honra dividir a banca de colaboradores da página, e conhecer sua história traz mais orgulho ainda,Obrigado.Por tudo que fez,e aproveite sua nova liberdade!
O projeto Omnisversa tem tido a chance de ser a formaçao de uma família de amigos pela união de egstores e colaboradores em um espírito, sentimento e direção únicos. Um projeto já sem dono determinado, mas um fazer coletivo em prol do humano.
Lindo texto Venina, ficou com uma fluidez incrível que transporta cada um que lê uma cena linda cheia de impressões e cores👏👏👏👏👏🤩🤩🤩 adorei!
Estaremos encaminhando seu comentário à autora. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Venina,
Você, como poucas pessoas, tem uma capacidade incrível de Se reinventar. Talento de sobra para Alcançar sucesso em qualquer coisa que você faça porque você é obstinada, inteligente, criativa e batalhadora.
Desejo que Você encontre muitas alegrias no caminho que você escolher. E, como “eterna aprendriz”, continue aluna exemplar. Seja feliz!
A equipe Omnisversa agradece seu comentário, Rosana, e, certamente, o encaminhará à colaboradora citada. Este é um projeto que busca trazer conhecimento e reflexão para que as pessoas tenham uma vida boa. Os colaboradores são pessoas que possuem o mesmo intuito. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.