“Descobrimos nossa espiritualidade quando despertamos para a finitude da vida.“ (Augusto Cury)
Baseado em Agostinho de Hipona, podemos dizer que religião, a partir do latim, significa religar ou reeleger. Ou seja, na religião se busca o religar a Deus, cuja ligação fora rompida com o pecado original praticado por Adão, ou se eleger, uma ou mais, figuras divinas a quem adorar. A religião, portanto, é algo de sentido amplo, que envolve crença ou fé (firme convicção e conformidade com algo). Por outro lado, essa religiosidade pode ser expressa individualmente (A minha mente é a minha igreja. – Thomas Paine), por um comportamento pessoal, ou de forma coletiva, em uma igreja ou uma seita. Quando falamos de igreja estamos diante de um conjunto de fiéis com a mesma fé e que celebram as mesmas doutrinas religiosas. Sociologicamente, há um grupo religioso organizado e institucionalizado. Importante aqui a figura de uma ritualística única. Por exemplo, se você é católico, a missa terá os mesmos ritos, procedimentos, textos, …, em qualquer lugar do mundo em que esteja. Já as seitas referem-se a seguidores, ou seja, há fé, mas não existe uma unidade de ritos que permita ver uma organização e institucionalização na forma própria de uma igreja. Percebemos desde já que no âmbito pentecostal existem igrejas, mas no âmbito neopentecostal há muito mais seitas, ainda que se denominem por igrejas. Seja em igrejas ou seitas, dois elementos são necessários e, em tese, indissolúveis: crença e lealdade. A religião pede só a primeira. Há, em qualquer hipótese, uma crença no sobrenatural, naquilo que não pode ser comprovado por meio das ciências da natureza. Não se precisa, em tese, de confirmações materiais para a comprovação daquilo em que se crê. Só se ressalve que seitas podem estabelecer-se não só no campo religioso, elas podem estar no campo político, moral e até filosófico. As seitas podem ser ferramentas de dominação e manipulação de alcance mais imediato e brutal. Seitas tendem a ser extremistas a partir da tentativa impositiva de seus pontos de vista, fins, ou mesmo dos interesses de seus fundadores e/ou líderes. Mas, quando falamos de espiritualidade, ainda que haja uma crença, não estamos necessariamente diante de uma questão de religiosidade, porquanto, espiritualidade tem a ver com o propósito e sentido que a pessoa encontra para a sua vida. Isso pode significar uma conexão com a religião, com o divino, com eles mesmas, na convivência com pessoas queridas, com a arte, com a natureza, … Nas palavras de Andrew Schneider: “Existe uma coisa que toda a verdadeira espiritualidade tem em comum, quer essa espiritualidade seja derivada da fé, da ciência, da natureza, ou das artes – um sentido de sobrenatural.” Assim, a renovação espiritual pode ter um sentido tão amplo que foge da visão religiosa, ela pode alcançar um ateu, um agnóstico, … Em regra ela é uma forma de explicação da nossa finitude ou não. Espiritualidade envolve diversidade. Portanto, achar que espiritualidade e ciência se opõem é um erro básico. Crer na física quântica e seus efeitos, por exemplo, pode ser uma forma de espiritualidade, se tal crença dá sentido à sua vida. Aliás, na lição de Carl Sagan, “a ciência não só é compatível com a espiritualidade, mas também é uma fonte de espiritualidade profunda”. Hoje, a confusão de visão de tais figuras, seja por ignorância ou por manipulação, tem gerado muito ódio, violência, preconceito e intolerância. Evolua sua espiritualidade, pois isso permitirá uma visão diversa e, portanto, mais respeitosa por força do equilíbrio. No equilíbrio se encontra paz e harmonia, os fundamentos de uma vida boa.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Augusto Cury, Agostinho de Hipona, Thomas Paine, Andrew Schneider, Carl Sagan