Talvez a primeira e grande questão seja: “- O quanto a zona de conforto não é uma acomodação ao desconforto?” Na verdade, a árvore do conforto gera um fruto chamado acomodação. As pessoas dificilmente planejam e executam mudanças, salvo quando em situação desconfortável. E este entendimento vale mesmo que seja pouco o conforto. Aliás, Martin Luther King dizia que “a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”. Quantas pessoas não conhecemos que muito reclamam ou praguejam, mas na realidade se sabotam ou fogem das mudanças que até sabem necessárias a si e a suas vidas? O medo da mudança parece causar um certo imobilismo. “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.” (Érico Veríssimo) Mas, ainda assim, apesar do medo, a mudança é encarada quando o desconforto da situação é real. Fernando Teixeira de Andrade ensina, sobre esse momento inafastável da mudança, que: “É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”. Mudar exige uma série de atos sequenciais: o conhecimento e reconhecimento da situação desconfortável, a assunção de que a mudança é necessária, o planejamento sobre como mudar, executar a mudança e se adaptar ao novo cenário fruto da mudança. Dá trabalho! Lembro então as palavras de John Kennedy: “Quase sempre preferimos o conforto da opinião sem o desconforto da reflexão” A vida é mudança, pois a vida não é sempre confortável e o conforto é o que buscamos. Afinal, acredita-se que conforto é parte da felicidade e, na visão de Freud, esta é a real busca dos homens pela vida. Portanto, não existe zona de conforto se você não está feliz. Como a felicidade é sempre temporária, mais precisamente, momentânea, não pode existir uma zona de conforto permanente. A necessidade de reflexão se faz constante e com ela as decisões pelas mudanças que se mostram necessárias. “- Mas eu prefiro ficar onde estou e não ter o desgaste da mudança!” Ok. Esse é um direito seu, as decisões são suas. Mas, por favor, então seja resignado, e não fique reclamando. Aos “reclamões” não foi garantido nem o reino da paciência nem o reino da tolerância – talvez nem o Reino dos Céus. Entendo as palavras de James Baldwin (“As pessoas conseguem chorar muito mais facilmente do que elas conseguem mudar.”), mas, se a vida é mudança, nós temos que ser adaptáveis, mutáveis, favoráveis à mudança, por consequência. “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” (Eduardo Galeano) E pode ser que no curso da mudança tenhamos que mudar, pois, na esfera castrense, Napoleão Bonaparte lecionou que “a grande arte é mudar durante a batalha”, pois aí do general que vai para o combate com um esquema único e inalterável. Mudar não é fácil e viver também não. Mas são dois lados da mesma moeda. Qual a dificuldade com a lição, se ela vem desde tão longe: “Nada é permanente, exceto a mudança.” (Heráclito), ”Tudo é mudança; tudo cede o seu lugar e desaparece.” (Eurípedes) e “Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo.” (Platão)? Já não seria tempo de termos aprendido? Até o poeta cantou: “Não sei quantas almas tenho./Cada momento mudei./Continuamente me estranho./Nunca me vi nem achei.” (Fernando Pessoa)
Autoria: Fernando SáAutores citados: Neale Donald Walsch,Martin Luther King, Érico Veríssimo, Fernando Teixeira de Andrade, John F Kennedy, Freud, James Baldwin, Eduardo Galeano, Napoleão Bonaparte, Heráclito, Eurípides, Platão, Fernando Pessoa