Preconceito? Toda religião deve servir ao bem do próximo.

“A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, …” (Albert Einstein)

Tendo Deus se corporificado somente em Seu filho Jesus Cristo, é inconteste, aos que creem, ter Ele falado anteriormente pelos profetas judeus ou diretamente a alguns patriarcas hebreus. Portanto, sendo Deus onipresente, onisciente e onipotente, não teria Ele também se manifestado, em priscas eras, pelas encarnações de Buda, pelos Deuses Hindus, pelos Orixás Africanos, …? Não esqueçam que cristianismo, judaísmo e islamismo têm o mesmo fundamento por Abraão – o Pai da Fé. E diversos livros sagrados possuem passagens análogas. O grande papel da religião está no alcance do bem comum, porquanto todos são criação de Deus. Cabe, então, perguntar-se, porque pessoas que professam doutrinas religiosas se entregam aos preconceitos, não só quanto a outras religiões, mas ainda quanto a etnias, classes sociais, condições econômicas, opções sexuais, …  Eboo Patel fala do papel das religiões no servir ao outro, e da existência do preconceito por força da ignorância dos crentes de uma religião em relação a outras religiões. Seu maravilhoso livro (Acts of Faith) nos ensina que crença não pode ser cegueira. Patel criou um grupo multi-religioso de alunos de Harvard, em que, aprendendo entre si os fundamentos de suas diferentes religiões, eles pudessem abolir o preconceito religioso e servir conjuntamente ao próximo. Aliás, está aí o ensinamento de Voltaire: “Preconceito é opinião sem conhecimento.”. Se é bem verdade que “nunca é muito tarde para abandonarmos nossos preconceitos” (Henry David Thoreau), por vezes, a ignorância não está só no desconhecimento da religião do outro, mas também no desconhecimento daquela religião professada pelo preconceituoso. A falha interpretativa ou a deturpação da doutrina religiosa podem ser fontes de preconceito. Não basta a presença e o discurso para estar confirmada a verdadeira fé. Por isso, Jesus Cristo, dando indireta em seus Apóstolos, disse, quando do encontro com o oficial romano: “Fiquem sabendo que ainda não encontrei ninguém com tanta fé mesmo entre o povo de Israel” (Ma 8,5-17). Livros religiosos não devem ter uma interpretação literal. Neles, os acontecimentos devem ser vistos dentro da ótica histórica, sociológica e moral da época, para que, entendida a intenção implícita na narrativa (moral da história), se possa ter o exemplo de prática e aplicação nos dias presentes. E podemos, então, voltar a Jesus Cristo no famoso encontro com a mulher samaritana (Jo 4, 6-29). Dentro da mencionada ótica multidisciplinar, aplicada á época: (i) um judeu não se rebaixaria falando com um samaritano, (2) um judeu, em público, não se dirigiria a uma mulher só, (3) mulheres eram consideradas seres um tanto inferiores, e (4) mulheres “adúlteras” recebiam desconsideração total, quando não eram apedrejadas até a morte.  Haja preconceito! Mas, o filho consubstancial a Deus não só conversa, mas pede água a uma mulher samaritana, que está só, e que tinha ou tivera diversos maridos. Certamente, o ensinamento de Jesus está na abolição de todo preconceito, e da confirmação do principal de sua doutrina; o amor ao próximo. Essa é a intenção e a lição do Cristo, que deve se obter da narrativa bíblica e fazer aplicada nos dias de hoje, como sinal de verdadeiro ato cristão. Na poesia de Artur da Távola, “o amor quebra barreiras, une facções,
destrói preconceitos, cura doenças…”. Esses versos são a materialização do ensinamento do Senhor Jesus. E sendo assim, por que vemos tanto preconceitos por parte de cristãos, dos mais diversos grupos (católicos, protestantes, evangélicos, neopentecostais, ..)? Preconceitos entre si próprios. Não conhecem a doutrina que professam? Renegam a orientação dada por Jesus (“Eu sou o caminho a verdade e a vida.” – Jo, 1, 6)? Ser preconceituoso é negar a verdade, deixar de seguir o exemplo e renunciar a verdadeira vida espiritual. Acima de tudo, é ferir a humanidade, por não entender o outro como igual (irmão, próximo, ou o nome que se der) e amá-lo. Viva Bob Marley: “Só tem uma coisa que eu quero muito: que a humanidade viva unida…”.

Autoria: Fernando Sá

Autores citados: Eboo Patel, Voltaire, Henry David Thoreau, São Mateus, São João, de Artur da Távola, Bob Marley.