Houve uma época, em que corroído pela ideia de sucesso e focado em uma carreira, eu bebia ansiedade e respirava esgotamento. Uma exaustão me consumia tal qual aquela que Poe narra na visita de um lúgubre corvo. Eram falsos dias completos, onde a tristeza da solidão se escondia sob dolosos enganos de ganhos e convivência profissional. Um tempo longe de amigos e família. Um tempo de amores fluidos, que mascaravam um completo desamor. Uma época que o tempo mostrou ter sido sofrimento e perda. Mas me era impossível reconhecer a situação, e por não diagnosticá-la, eu não buscava cura. Só o coração combalido me mostrou que algo estava errado. Mas sendo tão direcionado, nada apreendi. Não tirei a devida lição. Necessitei dores extras para só então ver que já não vivia, que minha essência estava comprometida e minha alma ausente. Foi no sofrimento que encontrei o ponto determinante de minha reflexão e reconhecimento dos fatos. Só então, entendi a obscura estrada que seguia, o profundo poço em que mergulhava e a distância que estava do equilíbrio que a vida pede. Era tempo, então, de buscar a harmonia e um lampejo de real felicidade. Já não queria ter mais tempo perdido. A vida é curta e precisava resgatá-la. Não havia mais tempo para o desperdício do luxo e da indiferença, que Sêneca reprovava para alcance de uma vida boa. Nesse momento, dei a guinada. Descobri que a beleza está no simples, a felicidade estava em mim, a imagem que importa é a de mim mesmo e a espiritualidade necessita espaço. Só então passei a me pertencer; nesta visão, encontrei a luz que me faltava, o equilíbrio que não tinha e o autoconhecimento efetivo. Tenho medo de recaídas tal qual o alcoólatra em abstinência constante de um vício sem cura, e, portanto, fico atento e dedicado. Sem problemas, pois isso é maturidade verdadeira. Ser dono de mim não tem preço. Não lastimo tais dias, pois sei que deles precisava para aprender. Não transfiro responsabilidades, pois foram minhas escolhas. Pagamos preços maiores ou menores conforme a quantidade de dor que precisamos para termos o aprendizado necessário. Me tornei autor da minha própria história e encontrei o oásis da alma de que fala Augusto Cury. E, assim, a vida foi aos trilhos que devia percorrer, para o encontro das estações confiáveis. Como Pinduca, todos os dias vejo a fumaça e ouço o apito do trem da vida, renovando minha fé independente de qualquer coisa. É isso! Chegar e partir são só lados da mesma viagem, como Milton cantou. Mas tudo sempre com muito equilíbrio, para viver aquilo que importa, que faz da vida algo útil.