“É-me impossível separar a palavra fraternidade da palavra voluntária.” (Frédéric Bastiat)
O termo fraternidade pode ter uma acepção bem ampla, pois, mais que um laço de parentesco entre irmãos (irmandade), ele pode significar a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa (fraternização) ou uma união e afeto própria, ou provável, de irmão para irmão. Assim, temos as fraternidades religiosas, as fraternidades estudantis, as fraternidades de grupos de suporte mútuo, de ativistas, …, além do vínculo de afeto que se espera entre irmãos. Algumas fraternidades são abertas e transparentes e outras fechadas e sigilosas. Dentro desse contexto, a atuação de algumas fraternidades pode ser questionável, inclusive à luz da moral e da ética. O Dalai Lama nos ensina que: “Se existe amor, há também esperança de existirem verdadeiras famílias, verdadeira fraternidade, verdadeira igualdade e verdadeira paz. Se não há mais amor dentro de você, se você continua a ver os outros como inimigos, …., só haverá sofrimento e confusão no cômputo final. … O fundamento de toda prática espiritual é o amor. Que você o pratique bem é meu único pedido.”. Parece bem lógico e muito próximo do amor ágape, no conceito grego, e que foi incorporado pelo cristianismo. A fraternidade seria a ferramenta de preservação da liberdade, como disse Victor Hugo, e se tornou parte do “slogan” da Revolução Francesa, para que liberdade existisse em comunhão com igualdade. Mas o comportamento fraterno parece, cada vez menos, ser parte expressiva no convívio social, cuja justiça e serenidade dependeriam dela. Talvez por isso, Flaubert desdenhava ao dizer que “a fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia social”, porquanto tão exaltada e tão pouco exercida. Algumas pessoas tendem a descaracterizar a fraternidade, pois ela significa tratar o outro como se deseja ser tratado; ver o outro como a si mesmo ou parte de si; reconhecer a dor do outro e senti-la na medida da sua possibilidade. Mas fraternidade não é piedade (“Considero a piedade do rico para com o pobre injuriosa e contrária à fraternidade humana.” – Anatole France). A fraternidade deve permear a humanidade e não se restringir a fronteiras. “O egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A fraternidade não a tem.” (Alphonse de Lamartine). Importante ressaltar que a fraternidade embasa o respeito à diversidade ao conciliar gostos distintos e perspectivas dissonantes. Tudo aquilo que prega uma igualdade, onde algo ou alguns são exterminados, não é fraterno. A fraternidade constrói pontes e não destrói coisas, pensamentos e escolhas. Estamos distantes de um mundo fraternal? Sim, e muito! Mas podemos dar nossos passos, inclusive para que sirvam de exemplos. Afinal, a fraternidade é um sinal de evolução. Nas palavras de Agatha Christie: “Ainda creio na fraternidade entre os homens, mas sei que agora isso ainda vai demorar a acontecer. Digamos que ainda teremos que esperar uns dez mil anos ou mais. Não adianta ser impaciente. A evolução é um processo lento.” A fraternidade exige um exercício diário e constante – uma rotina, que nem sempre é fácil. Mas ela começaria a ser construída fácil com palavras e expressões hoje perdidas, ou mesmo tidas como sinal de inferioridade nessa sociedade arrogante e deselegante. Falo aqui de dizer: Bom dia!, Por favor!, Obrigado!, Com licença!. Perceba como a falta dessas pequenas demonstrações, já mostram quão pouco fraterna é nossa sociedade. Veja a crescente violência em palavras e atos. O quanto indicam a falta de fraternidade nos dias de hoje? “Mais do que maquinaria, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de bondade e compreensão. Sem estas qualidades a vida será violenta e estaremos todos perdidos.”, vaticinava Chaplin, em “Tempos Modernos”. Absurdamente atual. A pergunta que fica é, por que não faço minha pequena parte e incorporo a falta de humanidade dos dias atuais?
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Frédéric Bastiat, Dalai Lama, Victor Hugo, Gustave Flaubert, Anatole France, Alphonse de Lamartine, Agatha Christie, Charles Chaplin