“Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração.” (James Freeman Clarke)
Com extrema clareza, Jacques Rancièreindica a democracia como o regime do dissenso e da discordância. Segundo o filósofo, diante desse dissenso, a população deve encontrar uma solução associativa para a política. A partir desse entendimento, entendemos porque nos deparamos com uma crise democrática no Brasil. No nosso país, independente de ideologias, líderes políticos não promovem a discussão de soluções políticas que tragam melhorias à população sob a ótica do interesse público e do bem comum. Na verdade, não existem planos políticos ou de administração pública, pois prevalecem planos de poder, que permitam a tais líderes o uso da administração pública mais em favor de si, e de aliados e patrocinadores, que da população. Esse fato é claro quando olhamos os governos exercidos e em exercício dos dois principais candidatos da eleição em curso. Vemos hordas de fanáticos em favor de líderes que se apresentam como verdadeiras divindades ou vestais, e cujo histórico mostra ganhos pessoais maiores que os da população, a quem couberam mais ou menos migalhas. Aqui, nada mais atual que as palavras de Mark Twain no sentido de que “o princípio da democracia é dar e receber; dar um e receber dez”. A situação, diante do oportunismo egocentrismo dos líderes políticos brasileiros, bem como do fanatismo dos seguidores, faz brasileira a visão de Mencken da democracia como “a arte de, da gaiola dos macacos, gerir o circo”. Necessitamos, mais do que nunca, de um pacto social, que exige equilíbrio e uma visão maior e além do umbigo de determinados líderes políticos. Com remadores dissonantes, nesta galera, não há vento nas velas que dê rumo ao Brasil. Continuaremos uma embarcação sem rumo ou perdida nas mãos de um timoneiro louco. A situação se apresenta tão grave, que a escolha se dará muito mais pela rejeição que pela certeza da opção por um administrador capaz. E, neste cenário, provavelmente os dois líderes de pesquisa devem viver uma grave dúvida, porquanto, se os seguidores de um declaram abertamente o voto, os de outro optam pelo voto constrangido, ou seja, o voto envergonhado e assim não declarado abertamente. Confiar nas pesquisas? Acho que não! Mais do que as fakenews, os impropérios, as calúnias, a má educação, a falta de civilidade e o populismo, nesta eleição me preocupa estarmos definindo a derrocada final do país. Nenhum dos líderes da pesquisa eleitoral cumpriram programas de governo apresentados em eleições anteriores em que se sagraram vencedores. Por que confiar neles outra vez? Ouçamos a lição de Confúcio: “Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus erros.”. Se você não for parte da solução, será parte do problema. Qual o seu papel? O que você deseja? Não importa se o seu candidato vai vencer, ou não, importa que você tenha votado em quem mantenha coerência com seus ideais, mas também, e principalmente, com seus valores morais e éticos. Quando você vota, você oferece uma procuração – uma representação política, como em um contrato de mandato. Esse representante diz muito dos seus valores e princípios enquanto representado que o escolheu. O seu voto justifica misoginia, racismo, corrupção, homofobia, desvios e outras práticas ilegais ou imorais? Isso representa quem você é? Parece que sim. A eleição é a expressão maior da democracia. Pense bem antes de votar. Sua decisão importa na eventual ausência do direito de reclamar, se seu candidato foi o eleito. Hoje, você pode estar errando pela segunda vez. Errar uma vez é humano, errar duas vezes… Qual a sua responsabilidade, diante do seu voto, pelo Brasil ser o que é?