“Saudades do meu pai e dos amigos que morreram. Mas o que o velho me ensinou eu jamais me esqueço” (Chorão)
Existe um dito judaico: “As palavras da criança na rua são as do pai e da mãe.”. Pais e mães são heróis para os filhos até uma certa idade, e, por consequência, se tornam exemplos para os filhos. Isso exige dos pais uma conduta prudente, equilibrada e boa na vida comum, enquanto educam seus filhos. Não por outro motivo, apesar de não ser uma doença hereditária, alcoólatras comumente são filhos de alcoólatras. E da mesma forma, geralmente, se dá, quando falamos de características que envolvem preconceitos e fobias. Nesse processo de educação dos filhos, entendo que o pai e a mãe agem de forma distinta, onde a mãe é mais preventiva do sofrimento, enquanto o pai usa o sofrimento como elemento orientador. Talvez por isso Gandhi dissesse que “um pai sábio deixa que os filhos cometam erros”. E esse papel do pai como educador se tornou mais preponderante em uma sociedade onde a mulher é economicamente ativa, somam-se os pais solteiros, pais homoafetivos são uma realidade comum, … Acabou-se os tempos da frase: ‘Isso é um problema da mãe!”. O pai, enquanto orientador e exemplo, trará, ou não, equilíbrio ao filho, inteligência emocional, senso crítico, … Lembro que certa vez Desmond Tutu comentou: “Meu pai sempre dizia: não levante a sua voz, melhore os seus argumentos.”. Quem conhece a história dessa figura quase lendária entende bem a boa orientação e exemplo que recebeu de seu pai e expressou naquela frase. Afinal, ninguém pode fazer mais mal a alguém que seus próprios pais. As gerações têm choques e isso se vê facilmente quando falamos de pais e filhos. Comigo não foi diferente, mas, independente das oposições, sempre houve respeito, individualidade, responsabilidade e exemplo. Perdi meu pai cedo e ele, no final, disse que eu estava preparado para conduzir tudo (“Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho.” – William Shakespeare). Desde então, poucas vezes sonhei com meu pai, mas, quando ocorreu, a vivência era tão real e forte, que acordei crendo que ele nunca morrera. Relações assim fortes, que devem qualificar os papéis de pai e filho, exigem quase uma sublimação dos egos. Ser pai é uma missão grandiosa, que não deve ser escolhida na dúvida sobre sua importância e prevalência. Uma missão que não pode ser delegada ou objeto de desídia. Hoje, vemos uma sociedade onde muitos pais optaram pelo papel de provedores materiais em substituição ao papel de orientadores e formadores de caráteres. O resultado vemos nas escolas, ruas, em nossos condomínios, … Um resultado que não é bom. E muitas vezes também não é bom para os pais, que serão sempre responsáveis por filhos dependentes e sanguessugas. Lembro logo de Maquiavel: “Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.”. Infelizmente não dá para se adotar, como regra ou possibilidade certa, a solução de Nietzsche sobre arranjar um bom pai, quando não se tem um assim. Portanto, a opção pela paternidade exige uma profunda reflexão e decisões que perdurarão por uma vida inteira. Os islamitas dizem que “nada melhor pode dar um pai a seu filho do que uma boa educação”. Hoje, em vários momentos, me vejo pensando: “bem que meu pai dizia”; e não há maior prova do quanto ele influenciou naquilo que sou, na forma que me comporto e nos resultados que obtive. Teve falhas, mas ele era humano, e convivo sem culpas com tal fato. Importante que meu pai primou por me mostrar e orientar sobre algo que Lya Luft disse, ou seja “que a gente possa ser mais irmão, mais amigo, mais filho e mais pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e fazer feliz”.