“Seja você mesmo, porque ou somos nós mesmos, ou não somos coisa nenhuma.”(Monteiro Lobato)
Tive a sorte de crescer embalado pelos contos infantis e juvenis. Como agradeço minha família por isso, afinal “a gratidão é a virtude das almas nobres” (Esopo). Minhas referências foram os irmãos Grimm, Andersen, Júlio Verne, Alexandre Dumas, Malba Tahan, Hoffmann e Busch. Eram contos, aventuras, lendas, … Mas havia um lugar especial para Monteiro Lobato. E se não bastassem os livros, criou-se um programa televisivo baseado em histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo. Só de lembrar me vem à cabeça a música de Gilberto Gil: “Marmelada de banana/Bananada de goiaba/Goiabada de marmelo/Sítio do Pica-Pau Amarelo/Sítio do Pica-Pau Amarelo/…”. Voltava correndo do colégio e entrava pela casa às carreiras. Não havia tempo para falar com ninguém, pois a música de entrada do programa já estava ecoando pela sala. Várias daquelas histórias me estimularam a saber mais sobre a Antiguidade (gregos e romanos), sobre ciências, artes, … Monteiro Lobato foi um ícone que trouxe conhecimento e exemplos de comportamento com seus personagens. Emília, Visconde, Tia Anastácia, Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Rabicó, Tio Barnabé e Jeca Tatu ensinavam-nos como ser e nos comportar, independente das traquinagens da turma. Mas Monteiro Lobato não é só o Sítio do Pica-pau Amarelo, ele nos propiciou maior acesso às fábulas maravilhosas de Esopo e La Fontaine, em um livro publicado há 100 anos. E por falar em fábulas, como esquecer o destaque que ele deu ao imaginário brasileiro com a participação, no Sítio, do Saci Pererê, Cuca, Curupira, Mula sem Cabeça, … Havia um nacionalismo original que acabou resvalando para a “Campanha do Petróleo é Nosso”. Não por outra razão um dos primeiros poços de petróleo brasileiros recebeu seu nome. Monteiro Lobato teve um papel (escritor e editor) importante além da literatura nacional, onde escreveu também obras voltadas para o público adulto. Nessa vida curta (faleceu aos 66 anos), Monteiro Lobato foi ainda jornalista, empresário, tradutor, adido cultural e promotor de justiça. Sempre foi pessoa de posicionamento, tendo já aos 10 anos se negado a tomar a primeira comunhão perante uma oligarquia cafeeira em que vivia e da qual fazia parte. E foi seu temperamento que o levou à prisão durante a Ditadura Vargas. Mas, nas palavras de Lobato: “Quem acredita em alguma coisa sempre acaba levando na cabeça.”. Nos últimos tempos, vejo uma série de ataques à figura de Monteiro Lobato; acusações de racismo a nacionalismo de direita. O Brasil é assim, as pessoas têm que ser perfeitas (sem vícios) pelos padrões de imperfeitos donos da verdade e de duvidosa retidão; uma hipocrisia marcante pela falsidade e arrogância. Esse comportamento tem destruído a chance de termos exemplos emblemáticos no país e que gerem um ponto de consenso e igualdade necessário ao reconhecimento das pessoas como uma nação. Monteiro Lobato não era perfeito, como ninguém o é, mas fez um importante papel para a cultura brasileira. Um trabalho que não tem sido feito pela grande maioria dos seus detratores. Voltando às palavras dele: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.” Isso explica muito dos caminhos do Brasil com certos pseudo- intelectuais, libertários no que lhes interessa. Incrível a necessidade nacional de desvalorização, desagregação e autodestruição. Aqui o nacional de nada vale; há que se imitar uns ou outros dependendo da duvidosa facção ideológica. Não aprenderam a lição com Monteiro Lobato: “Nada de imitar seja lá quem for (…) Temos de ser nós mesmos (…) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.”.