“A falsa modéstia é o último requinte da vaidade.” (Jean de la Bruyere)

Quando cheguei ao mundo trouxe do hebraico “Habel” e “Shav” que significam   o vazio e o oco. Minha aparência é falsa e mentirosa, e dizem que não possuo conteúdo. Às vezes, me assemelho aos políticos que se vangloriam de suas próprias ações. Quando as pessoas se olham no espelho e se veem com os meus olhos, ganham um valor absurdamente maior em suas aparências, chegando muitas, e na maioria das vezes, a se sentirem diáfanas. Eu sou assim mesmo, tenho fortes características de muitos famosos – fanática pela admiração e o reconhecimento. Como jogadores de futebol, sempre tenho a melhor autocrítica, afinal me pareço com estes pela imagem positiva exagerada que passo por onde estou. Ainda mais exagerada se há um gol. Meu atrevimento fez “Lúcifer” sentir-se maior que “Deus”, e me vejo assim, ainda nos dias atuais, onde homens se dizem mensageiros do “Divino” e eu me faço atemporal. Trago a este mundo uma legião em “selfies”, redes sociais e academias cheias de corpos sarados… Também sou poderosamente usada por muitos e muitas “youtubers” deste mundo cibernético. Frequento, assiduamente, salões de Cabeleireiros, afinal sou bela. Claro que, muitas vezes, visito as clínicas de cirurgia plástica, e sou encontrada ainda nas sessões botulínicas, nos implantes de silicone e capilares. Me sinto mágica e, às vezes, feiticeira! Sou forte e abundante ao saber quando há o sucesso do próximo, que não precisa ser tão próximo assim. Vejam vocês, presos às minhas palavras, e querendo mais e mais minhas palavras! Muitas vezes me disfarço em humildade, e outras me faço mais forte. Tão forte quanto muitos lutadores, que colocam seus cinturões reluzentes, ao final de uma luta, onde o outro está totalmente nocauteado. Confesso que fico admirada ao me usarem com parcimônia, mas estes, que assim o fazem, caros leitores, são apenas seres comuns que a vida chama de modestos. Eu, já sou amiga dos seres da falsa-modéstia! Tenho frequentado altos escalões da República e, em tempos de pandemia, me vejo frequentadora assídua nas sessões da CPI, tentando dar nomes a ações e omissões. Estou tão presente na política, que me encontrei sentada até no STF. Há um poder incalculável quando me usam assim desrespeitosamente. Mas o que posso fazer? Sou assim! Essa famosa ilusão chamada de vaidade. E ainda estou aqui! A própria vaidade tentando entender esta frase: “A vaidade dos outros só vai contra o nosso gosto quando vai contra a nossa vaidade.” (Friedrich Nietzsche).

Autoria: Waldir José Machado

Autores citados: Jean de la Bruyere, Friedrich Nietzsche

Foto: pixabay.com 

Russel Jojo Tabujara