“É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” (Fernando Teixeira de Andrade)

As pessoas têm uma excessiva necessidade de consolo diante de suas frustrações presentes. E, em geral, tal consolo advém de um processo de justificativa baseado na nostalgia. Nostalgia de quê? Será que o passado foi tão bom assim? Será que o ontem nostálgico não é uma fantasia ou uma ilusão? Existe uma verdadeira convicção de que ontem foi melhor, mas como disse Nietzsche: “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.” Os gregos davam três significados à palavra nostalgia, para dizerem, ao final, que ela não serve para nada. O ontem e o amanhã não são reais, só o presente é real. Por isso Goethe sabiamente diz o óbvio: “Nada vale mais do que o dia de hoje. Você não pode reviver o ontem. O amanhã ainda está além do seu alcance.”. O presente exige ação, fazer, criar, estabelecer, ser, … pois o presente é a vida. Muitas pessoas parecem ter profunda dificuldade com isso. Portanto, se entregam, no presente, a “viver” no passado ou esperar “viver” no futuro. Isso certamente influencia não só nos resultados a serem alcançados, mas também nos sentimentos aflorados. Há os nostálgicos, que acham que o passado foi maravilhoso, ao contrário do presente, mas, a maioria, lá atrás – quando o passado era presente, reclamava daquele momento se valendo de mais nostalgia. Nas palavras de Marcel Pagnol, “a razão pela qual algumas pessoas acham tão difícil serem felizes é porque estão sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é e o futuro melhor do que será.” E mais grave, ainda, há os nostálgicos iludidos, que sentem saudades de um passado que não viveram ou em cuja época não tinham como avaliar tal tempo. Como pode alguém com 60 avaliar que o passado, quando tinha 5 anos de idade, era perfeito? Perfeito sob qual ótica? Seria perfeito para alguém com 60 anos então? Perfeito de ouvir dizer? A perfeição do momento depende de critérios de importância subjetivos de quem vive aquele momento e o julga. Basta aqui lembrarmos a relatividade exposta por Schopenhauer: “Vista pelos jovens, a vida é um futuro infinitamente longo; vista pelos velhos, um passado muito breve.” Essa fuga do presente sempre foi um hábito, tanto que Shakespeare lembra que “o passado e o futuro parecem-nos sempre melhores; o presente, sempre pior.” Mas, pense na realidade maior, do avanço da ciência, da tecnologia, do aumento de tempo de vida, do maior alcance ao conhecimento, … Isso denota tempos piores? Só para os negacionistas, mas que não vivem sem internet, celulares, … Piada! O presente necessita ser encarado! “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.” (Dalai Lama).  Passado, presente e futuro são tempos consequentes, e não adentro aqui à visão da física quântica sobre o assunto. O que se viveu deve ser lição e experiência, que provavelmente mais se presta a quem as teve que a terceiros. O futuro deve ser uma meta que inspira as ações do presente, pois este é o momento de viver e sedimentar o caminho da vida futura. Para Sêneca, dedicação à espera do futuro cabe a quem não sabe viver o presente. E apesar de estarem em escolas filosóficas distintas, a visão de Sêneca se soma e ajuda no entendimento das palavras de Epicuro: “As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.”. Não fuja do presente, pois o isolamento omisso no passado (nostalgia) comprometerá o futuro, pois, na lição de Gandhi, “o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Mesmo que você tenha tido excelentes momentos no passado, isso passou. “Pode-se ter saudades dos tempos bons, mas não se deve fugir ao presente.” (Michel de Montaigne). E se você está cheio de esperança para o futuro, faça agora que o amanhã não seja um tempo de frustrações.  A busca da vida boa hoje, levando em conta as lições de ontem, é uma luta pela tentativa de uma vida melhor amanhã. 

Autoria: Fernando Sá

Autores citados: Fernando Teixeira de Andrade, Nietzsche, Goethe, Marcel Pagnol, Schopenhauer, Shakespeare, Dalai Lama, Sêneca, Epicuro, Gandhi, Michel de Montaigne

Foto: pixabay.com 

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