RETROSPECTIVA DE TEMPOS DIFÍCEIS E ESPERANÇAS DE ANO NOVO
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“Planos para o futuro? Sempre! Mas é necessário que sejam factíveis e flexíveis.” (Cortella)
Tenho visto comentários, principalmente em redes sociais, sobre o péssimo ano de 2020 e como fazer mandingas para um melhor 2021, e, também, aconselhamento para não utilização daquelas do último Réveillon. Realmente, 2020 foi um ano difícil, mas, até aí, o mesmo se fala sempre quando se chega próximo ao fim de cada ano. 2020 foi diferente, pois houve o confronto dos homens, de forma generalizada, com a morte, com as suas realidades relacionais, com riscos econômicos, … Houve perda da estabilidade mínima que se tinha, ou pelo menos parte da população a tinha. Mas não existe maniqueísmo! Nada é só bom ou só ruim. Não só pontos de vista podem dar diferentes cores a esta tela como as ações individuais para alteração de cenário podem causar, ou causaram, visões diferenciadas do período. Lembrando Guimarães Rosa: “A vida é ingrata no macio de si, mas traz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que este mundo é muito misturado.” Sofri com amigos perdendo empregos, mas vi neles invejáveis características de capacidade de reinventarem-se, empreenderem ou partirem por outros caminhos. Vi relacionamentos se perderem, mas que, na realidade, se mantinham mais pela ausência do que pela presença. Na verdade, estar junto, mostrava a impossibilidade do relacionamento. Triste? Sim! Mas quem sabe seja a chance da felicidade por outros caminhos. O isolamento demonstrou que, por vezes, as pessoas não toleram estarem juntas em casa; por vezes têm libertação estando longe do grupo do trabalho; e, por outras, que a rotina que se tem (que deveria ser fundamento) é essência, e, portanto, a vida é muito vazia. “O curioso é que a vida, quanto mais vazia, mais pesa.” (L Daudi) A mim, a pandemia possibilitou o avanço na busca do saber: nunca li tanto, e nunca produzi tanto intelectualmente. Também vi, pontualmente, o aumento de atos de caridade. Pessoalmente, apesar da distância, houve mais amorosidade entre os amigos e familiares mais próximos, agora expressas em “lives”, ligações telefônicas mais longas, e mesmo no aperto da saudade dentro do coração. Aspectos negativos? Sim! Há dois em especial, que são a falta de mudança e aprendizado das pessoas, bem como o número de pessoas mortas e atingidas pelo vírus neste ano. A segunda situação me causa raiva e revolta, pois creio que toda a dor foi maior, assim como as mortes e pessoas infectadas aumentadas, por incompetência, desídia, maldade e ignorância. Já o primeiro ponto, este me faz refletir! Cortella diz que “é em condições absolutamente difíceis que a amorosidade aparece e é imprescindível”. Crendo nisso, achei que haveria mais solidariedade, empatia, compaixão e misericórdia. Talvez eu tenha esquecido Pondé, quando este diz que quem não tem afeto, não sabe recebê-lo nem oferecê-lo. Também esqueci de Saramago na história contida em Estudo sobre a Cegueira. Realmente, as pessoas dão o que têm. Não vem amorosidade de quem desconhece ou não vivifica verdadeiramente o amor; de quem é egoísta, desumano e/ou desrespeitoso! E, assim, vimos características se acentuarem, e grande parte delas envolve a maldade, o sectarismo, a desumanidade, a vilania, … O sonhado e profetizado humanismo não veio com a pandemia. Muito pelo contrário! Interesses pessoais afetaram até tratamentos, prevenção e proteção com relação à doença, ao vírus e sua propagação. Sequer podemos alegar serem notícias ruins de ganho comercial por força da incorporação da relação pânico/salvação, já que não havia anúncio de salvação. Há doença, medo, risco, dor e indiferença. O essencial do homem (amorosidade, fraternidade, solidariedade, religiosidade, sexualidade, felicidade, …) continuou em grande parte perdido. Os sobreviventes não foram objeto de felicidade alheia, como deveriam ser, pois a felicidade vem do essencial e as pessoas se mantiveram, em larga escala, no fundamental. As 800 mortes italianas diárias, que chocavam, encontraram o lugar comum nas mais de 1000 mortes brasileiras diárias, sob visões, quase ou totalmente, despreocupadas. Onde ficaram o luto e as condolências? Dor Coletiva?! O pior para mim, em 2020, foi constatar que a raça humana não consegue ver o seu igual como igual, nem mesmo diante do risco comum. Sim, igualdade! Somos diferentes, mas todos iguais perante a lei e perante Deus! “Ora, a diferença é um elemento basilar para a pluralidade humana e a multiculturalidade é uma grande resposta à nossa capacidade de inovar, modificar, reinventar.” (Cortella) Queria ver reais as palavras de Cícero: “Ora, se a felicidade de cada espécie consiste no modo de perfeição que lhe é próprio, a felicidade do homem consiste na virtude, uma vez que a virtude é sua perfeição.” Mas, se há dureza nesse aspecto negativo do desumano, devemos entender o fato e buscar, à nossa parte, mudar isso. Rohden diz que “é fácil subtrair o excesso, mas difícil adicionar algo à deficiência”, mas diz a canção de Vandré: “Quanto mais eu ando, mais vejo estrada/Mas se eu não caminho, eu sou é nada/Se tenho a poeira como companheira, faço da poeira o meu camarada.” Não basta só lamentar! Voltando a Cortella: “O estado de lamentação é algo extremamente confortável para quem não quer agir, arriscar, decidir.” Então, arregacemos as mangas, coloquemos nossa mente a trabalhar, façamos nossas orações, e vamos tentar realizar nossos sonhos (desejos factíveis). Ano Novo! Vida que segue e que pode ser renovada. Como nos versos de Chacal:
“vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir para parar
aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida”
Feliz 2021!!!!!!!!!!!
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Mário Sérgio Cortella, Guimarães Rosa, Leon Daudi, Saramago, Luiz Felipe Pondé, Cícero, Rohden, Geraldo Vandré, Chacal
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FOI ABUSIVO COMIGO1 de janeiro de 2021
O MELHOR ESTÁ POR VIR 1 de janeiro de 2021
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