“Quem não se comunica, se trumbica” (Abelardo Barbosa – Chacrinha)

Quem já esteve no Texas sabe o quão peculiar é aquele estado americano, começando pelo sotaque, e terminando no fato de que tudo lá é o maior dos EUA, incluindo as maiores SUV’s. Uma vez estive lá para visitar uma instalação industrial, e, mal tinha chegado, meu anfitrião me perguntou que horas eu pretendia ir para o aeroporto. Alguns encarariam essa pergunta como a negação da famosa hospitalidade sulista, mas resolvi ignorar a aparente falta de cortesia e respondi dizendo que pretendia ir até o fim do expediente. Dito isso, ele me perguntou, ainda de forma educada, se eu tinha correntes para rodas no carro alugado… Não sei dizer se pelo sotaque ou pela peculiaridade do tema, confesso que demorei para entender a pergunta. Ciente da minha confusão, ele então me explicou que estava entrando uma frente fria vinda do Canadá e que a queda de temperatura seria tão grande que estava prevista a formação de gelo nas estradas. Eu até tinha lido a respeito, no café da manhã, mas meu conceito de “frente fria” era menos radical do que aquele que se apresentava naquele instante. Temendo apostar no exagero típico dos texanos e patinar nas estradas, confesso que, como carioca da gema que sou, preferi antecipar minha saída. Refeita a programação, consegui sair no início da tarde, deixando para almoçar no aeroporto. Cheguei bem e não precisei me preocupar se havia correntes no porta malas e tampouco sobre como montá-las. Mas, curiosamente, no caminho, passei por uma placa que indicava uma saída para uma cidade chamada Abilene, e lembrei que esta cidade dá nome a um famoso paradoxo da gestão. Para os que não conhecem, vou resumir. O Paradoxo de Abilene foi idealizado pelo professor da Universidade de George Washington, Jerry B. Harvey, especialista em dinâmica de grupos e gestão organizacional. Trata-se de estudo de caso clássico de Administração de Empresas em que o membro de uma família, no meio de uma tarde entediada, propõe um passeio a Abilene. Todos os membros da família, um a um, começam a aceitar, mas todos no intuito de não desagradar o grupo ou se desgastar. Desnecessário dizer que o passeio se tornou um retumbante fracasso e no final ninguém soube explicar porque o fizeram. A causa do fiasco? A falha de comunicação entre os membros do grupo, que não questionaram suas participações em um evento, apesar de cada um deles, no íntimo, saber que seria insatisfatória e, meramente, no intuito de não desagradar. Aplicado a todo um grupo, o comportamento se mostrou um desastre, e sua causa básica, em última instância, foi a falta de sinceridade e transparência. Na vida, devemos evitar que ocorram situações com potencial para se transformarem em caso similar ao do citado paradoxo. Ruídos de comunicação são ótimas maneiras de congelar amizades e destruir relações, mesmo as familiares. Sendo assim, a melhor maneira de evitar o paradoxo de Abilene em nossas relações, profissionais ou pessoais, é aplicando o princípio do “se algo te preocupa, fale”. Nunca de qualquer jeito ou de forma rude, mas, com cuidado e de forma construtiva, fale. Tentar consertar uma situação dessas pode ser como montar correntes nas rodas do carro em uma estrada de gelo: pode até resolver, mas imagino que dá muuuuito trabalho.

Autoria: Maurício Martins

Autores citados: Abelardo Barbosa, Jerry B. Harvey