“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”. (Fernando Sabino)
Princípios são, antes de mais nada, a base mais profunda de nossas decisões. Até que ponto devemos defender nossos princípios ou sermos flexíveis em relação aos mesmos é uma questão com a qual nos deparamos diariamente. Para refletirmos a respeito, me permitam voltar um pouco no tempo e falar sobre um marcante personagem britânico que viveu durante o Renascimento: Thomas More. Ele viveu entre 1478 e 1535, tendo sido ao longo de sua vida filósofo, advogado, diplomata, escritor e legislador. Ocupou diversos cargos públicos, com destaque para o posto de “Lord Chancellor” (Chanceler do Reino), onde serviu ao Rei Henrique VIII da Inglaterra, de 1529 a 1532, e foi canonizado como mártir da Igreja Católica quase 400 anos após sua morte. E aí você me pergunta: E eu com isso? Bem, achei que a menção a Henrique VIII poderia ser uma pista. Mas vamos lá… Thomas More era católico convicto, em um mundo que vinha sendo abalado desde o final do século anterior pela reforma protestante. Oportunista como era, Henrique VIII viu neste movimento uma forma de resolver um problema pessoal: A negativa do Papa em conceder-lhe o divórcio para desposar Ana Bolena, que poderia lhe dar os filhos que não teve com sua esposa anterior. Por não concordar em conduzir este pleito, Thomas More renunciou ao cargo de Chanceler, o que deixou na época seu amigo, o rei, bastante insatisfeito. O soberano inglês acabou virando o jogo completamente, criando sua própria igreja protestante, dando origem ao Anglicanismo, em que o rei é também chefe supremo da nova religião. E sendo assim, criando e aplicando as regras, conseguiu Henrique VIII desposar Ana Bolena e dar a este relacionamento o caráter oficial necessário. Sendo assim, todos viveram felizes para sempre? Bem … não foi exatamente assim. Foi editado “The Act Respecting the Oath to the Succession (26 Hen. 8 c. 2)”, ou seja, “O ato de respeito ao juramento à Sucessão”, que, na forma aprovada pelo Parlamento Inglês (1534), exigia que todos os súditos jurassem respeitar o Ato de Sucessão (Succession to the Crown Act 1534). Basicamente, com tais leis, Henrique VIII fazia com que os súditos reconhecessem a legitimidade de suas núpcias com Ana Bolena e da prole advinda com tal casamento, inclusive para sucessão ao trono. A negativa ao juramento importava em ato de traição ao rei. Na verdade o juramento não foi formalmente exigido a todos os súditos, mas tão somente a determinadas castas e eventuais opositores. Thomas More se recusou a fazer o juramento por defender o dogma católico da indissolubilidade do casamento, a despeito de todos os pedidos de Henrique VIII para que o fizesse. Foi preso em abril de 1534, quando vigente o Ato de Sucessão, na Torre de Londres, e submetido a longo processo por traição, por sua recusa em reconhecer fundamentos do Anglicanismo, que na verdade mais tinham a ver com política do que com religião… aliás, a divisão entre ambos era imperceptível naquele tempo. Mais de um ano depois, pois já vigente o “Ato de respeito ao juramento à Sucessão”, foi executado por decapitação, por ainda se recusar ao juramento até o fim. Dizia que não valia a pena viver negando aquilo em que realmente acreditava. Toda a história foi reduzida a roteiro cinematográfico e originou um belo filme, vencedor do Oscar de 1967, chamado “O homem que não vendeu sua alma”, estrelado por Paul Scofield (Oscar de melhor ator) e Robert Shaw. Nele, em um dos diálogos Henrique VIII (Shaw) tenta convencer More (Scofield) a fazer o juramento, alegando que isso o deixaria sem alternativa, a não ser acusá-lo de traição, ao que More lhe responde dizendo para “fazer o que tem de ser feito”. Mais do que uma submissão, está a clareza de pensamento do filósofo de que entendia a consequência de seus atos, e, ainda assim, preferiria morrer fiel a suas convicções do que abdicar das mesmas e sobreviver sem honra. Talvez nunca nos deparemos com uma decisão deste porte, mas é importante identificarmos que princípios nos balizam e nos definem, pois, em algum momento no futuro, podemos ser chamados a tomar uma decisão entre manter nossas convicções, com todas as consequências que daí venham, ou abrir mão delas, redefinindo quem somos, matando nosso antigo eu em prol de um novo.
Parabéns pelo excelente texto!
sua Condução, a partir de evento ocorrido no Século XVI,em que o cerne da Discussão foi a escolha e os valores individuais, foram facilmente transladados para os nossos dias.
e mais, diariamente para As nossas vidas, quando nos deparamos com Situações similares e cujas escolhas nos marcam dali para frente perante a sociedade.
Isso porque tais escolhas deixam marcas que destacam o caráter daqueles que, ao Invés de oportunistas ou omissos, Mantém suas Posições muitas vezes Minoritárias mas Firmes, como vimos recentemente, mas que incomodam por se tratar de Convicções que desnudam discursos Fúteis e vazios.
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Isso porque tais escolhas deixam marcas que destacam o caráter daqueles que, ao Invés de oportunistas ou omissos, Mantém suas Posições muitas vezes Minoritárias mas Firmes, como vimos recentemente, mas que incomodam por se tratar de Convicções que desnudam discursos Fúteis e vazios.
Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.
Parabéns Maurício! Quanta clareza, fluencia e leveza voce trouxe para um tema controverso e dificil!!!
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