“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;” (São João Batista)
Eu me arrependo de muitas coisas na minha vida! E como o tempo não volta, o único caminho que encontrei, para esses arrependimentos não se tornarem um peso em minha consciência ou um fantasma na minha memória (ou seja, UM REMORSO), foi usá-los como ponto de partida para uma nova atitude. Uma resposta ativa e consciente a um determinado fato que me entristeceu. Mas, o que fazer quando o arrependimento é o arrepender-se de ter nascido? Ou quando se arrepende de estar vivo? Ou quando se arrepender só permite ver a dor do mundo? O que fazer? Muitos encaram isso como uma depressão suicida, mas, sentindo isso e tentando ser o mais honesto e lúcido possível, vi que apenas não desejava mais estar nesse mundo. Não pelo fato de ser gay ou de meu comportamento ser incompatível com meu último local de trabalho – uma igreja tradicional. Afinal, para muitos, seja o que for, é só esquecer e seguir em frente. Sem entrar em debates quis partir, pois, a dor que vi não era só a minha; creio não ser possível extirpar a dor da sociedade, aqui ou em qualquer parte. E nessa reflexão vi algo que mexeu comigo. Percebi que uma pedra era mais feliz que eu! A ausência de atitudes da pedra é melhor do que qualquer das atitudes que tomo em estar vivo. Pois ser pedra é apenas ser. Sua estrutura não muda sendo jóia, pedra de tropeço ou pedra de fundação. Atribuímos valores, mas dela não esperamos nada nem nos frustramos, pois, o que ela é, ela sempre será. Apenas uma pedra! Pensei, por um louco segundo, que se uma pedra tiver consciência de si mesma, ela vive em paz. Pois nada pode fazer, por mais que queira, para alterar seu destino. Uma pedra verdadeiramente é algo passivo e feliz. Mas, na perspectiva de quem estava de saída deste mundo, por vontade própria, vi que minha atitude não seria só um grão de areia na existência dessa humanidade sem sentido. Deixaria, também, um rastro de pessoas infelizes, e não falo dos meus 300 amigos de rede social nem de todos que já passaram em minha vida, quer como amigos ou família. Entendi que, se me matasse, a grande maioria “consumiria” meu suicídio como notícia, compartilharia posts de sentimentos de pesar, daria condolências para a família e fariam reflexão sobre a morte de um ex pastor gay. Alguns até usariam uma arte nova no status de sua rede, colocando uma fita negra de luto com um pequeno arco-íris passando pela margem do desenho, para indicar a militância, e a usariam como foto de perfil. Mas isso passa! Como tudo passa! Muitos pastores já morreram, alguns eram gays, e partiram em meio a escândalos. Sei, por exemplo, de um – gay não assumido, cuja morte foi caso de polícia, sendo encontrado no antigo lixão de Gramacho em Duque de Caxias, região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Mas a vida sempre continuou mesmo com os homicídios e suicídios. Porém, uma meia dúzia de pessoas, alguns familiares e outras, que nem imagino quem possam ser, acabam por absorver o trauma do suicida. Elas ficam com uma ferida aberta e passam a viver assombradas por um arrependimento imposto pelo ato, e sofrendo uma dor de culpa pela incapacidade de ter fornecido motivos para a pessoa ficar viva. Em meio a todos esses pensamentos, o alerta de ”inferno”, no final da história, foi o que nunca mexeu com meus medos. Entretanto, ao pensar nas únicas pessoas para quem eu tinha algum valor se questionando e sofrendo para o resto de suas vidas, tomei a decisão: Vou ficar! Nada mudou! Nada é mais bonito do que ontem! O dia está amanhecendo lindo como sempre. Pessoas vão se amar e as tristezas virão! Agora temos a pandemia com 100 mil mortes no Brasil! Há mais sofrimentos no horizonte! Mas a morte não me convence mais como saída! A responsabilidade de responder a quem está me amando falou mais alto. Ainda que não esteja sentindo tanto orgulho e prazer em estar vivo, me sinto responsável em não causar a dor, que não desejo, mas sinto, a mais ninguém. Eu queria ser pedra… mas não sou! Prolixo por natureza e com alguns transtornos e desvios de personalidade ainda irei magoar a mim e a muitos na minha caminhada! Eu vivo essa coisa do suicídio já há muito tempo e, vez por outra, eu tenho de rever o porquê de ainda querer ficar aqui. Para terminar, outro dia fui ver o sol nascer em cima de uma grande pedra à beira mar. Ali, optei por uma das alegrias de minha vida, estar perto de Deus e de sua palavra. Li o 3º capítulo do Evangelho de Lucas. O texto fala de João Batista, no deserto, clamando às pessoas, para mudarem de vida, se arrependerem e darem frutos dessa decisão. Mas algo familiar me soou aos ouvidos, quando João expulsava os que estavam ali por modismo e sem ter consciência do que era aquele ato de arrependimento. João disse: “ATÉ DESTAS PEDRAS DEUS PODE LEVANTAR FILHOS A ABRAÃO.” Então, me deu pânico! Porque a paz de ser uma pedra pode ser modificada por um ato de vontade Daquele que nunca deixará de ser, mesmo que as pessoas não creiam que Ele existe. Mas, ao contrário da revolta por ter perdido meu referencial de paz, ENTENDI QUE ASSUMIR A VIDA FAZ SENTIDO SE PROCURAR OUVIR O AUTOR DA VIDA. Ri, porque percebi o óbvio! Quem sabe eu não era pedra, e Ele me ordenou ser vida?
AUTOR: Alessandro Antunes
Autores citados: São Joao Batista, São Lucas
Parabéns Alessandro,que sua história sirva de exemplo para muitas pessoas, e que vc seja sempre abençoado por Deus ❤️
O texto de hoje mostra coragem, mas acima de tudo caráter. Omnisversa têm a honra de ter Alessandro Antunes como colaborador.
Tenho vários amigos gays, são pessoas, não são pedras. Não se julga a orientação sexual de ninguém, pois todos somos centelhas divinas, partículas de Deus. assim como diz a bíblia, somos na mais pura Versão, imagem e semelhança divina. Com todos os defeitos, pecados e qualidades. Mas certamente ser gay não é defeito ou pecado. A falta de amor e de empatia, sim. Deus nos quer felizes em nossos corações, verdadeiramente. Seja como for, apenas ame a ti e aos outros. Entenda, que você como ser humano é perfeito, você não é menos do que amor. O amor de deus na terra.
Quando as pessoas entenderem que a única diferenciação que existe é o caráter (quem age bem e quem age mal) e que todas as outras diversidades não descaracterizam o caráter humano do ser e o respeito que todo ser merece, prevalecerá a vida boa na filosofia, assim como, as pessoas estarão sendo verdadeiramente religiosas e não meros repetidores de palavras divinas que no fundo não seguem. O texto de hoje mostra coragem, mas acima de tudo caráter. Omnisversa têm a honra de ter Alessandro Antunes como colaborador.
VIVER , EXIGE EQUILÍBRIO E FORÇA!
SER GAY NÃO DIMINUI NINGUÉM; MUITO PELO CONTRÁRIO, CONHEÇO DIVERSOS GAYS DE UMA SENSIBILIDADE ENCANTADORA E DE UM CORAÇÃO ENORME
PENSO QUE NINGUÉM, TORNA-SE GAY ; NASCE-SE ASSIM
TEMOS QUE SER SEMPRE AUTÊNTICOS E VIVER A VIDA DA FORMA QUE SOMOS
ENTENDO , QUE POR SER RELIGIOSO, O HOMEM CITADO SOFRE MAIS PRECONCEITO
NÃO OBSTANTE , A GRANDE MAIORIA DOS RELIGIOSOS SÃO GAYS
A ÚNICA COISA PARA MIM QUE DISTINGUE UM SER HUMANO É O CARÁTER!
SIGA EM FRENTE QUERIDO , MOSTRANDO A PALAVRA DE CRISTO !
JESUS JAMAIS TEVE PRECONCEITO ! E NOS DISSE : AMAI-VOS UNS AOS OUTROAS , ASSIM COMO VOS AMEI !!
ESSE É O MEU LEMA DE VIDA
ACEITO A TODOS , COM AS SUAS DIFERENCAS É AMANDO-OS PELO BEM QUE ME FAZEM !
Maria, obrigado pelo comentário. O autor, mais que um colaborador de OmnisVersa, é uma pessoa admirável pelo seu caráter, ações e histórico de vida. Uma honra tê-lo no projeto. Se todos pensassem como você, nossa sociedade seria muito melhor. Obrigado por nos acompanhar e continue; seus comentários são engrandecedores para o projeto.