“A única linguagem verdadeira no mundo é o beijo.” (Alfred de Musset)
Há atos que você pratica, e lhe são tão naturais, que você cria definições para os mesmos pelo uso que lhes dá. Sou um beijoqueiro. E beijo sempre me foi sinal de afeto. Beijo quem amo independentemente de como amo! Talvez por isso, sempre gostei da dúvida do poeta, se “beijo é flor no canteiro ou desejo na boca” (C. Drummond de Andrade). Muitos entendem o beijo somente pelo amor romanceado e carnal (o eros grego). “Te amo, beijo em tua boca a alegria.” (Pablo Neruda). Ou mesmo no sofrimento do beijo não ofertado de Florbela Espanca (“Amo-te tanto. E nunca te beijei… E nesse beijo, amor, que eu não te dei, guardo os versos mais lindos que te fiz.”). Mas, também o vejo na fraternidade (philia). A quem deposite no beijo sinal de obrigações e não uma demonstração de afeto. Portanto, declamava Ovídio: “Quem aceitou um beijo e não aceita tudo, merece perder aquilo que recebeu.” Mas, ainda prefiro vê-lo pela consequência declarada por Guy de Maupassant: “O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem?” Todavia, como toda e qualquer coisa, o beijo também não sobrevive ao maniqueísmo. Como? Lembra São Mateus (Mt 26.47-48) que: “no próprio momento em que dizia isto, acercou-se uma multidão conduzida por Judas, um dos doze, o qual foi direito a Jesus para o beijar, numa saudação amistosa. Jesus disse-lhe: “Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?””. O beijo pode ser a traição e muitas vezes o é! Bem sabemos disso! Talvez, por isso, Jean Racine tenha dito: “Beijo o meu rival, mas é para o sufocar.” Nem todo beijo é afeto. Nem todos, que lhe beijam, amam você verdadeiramente. Como tudo, o beijo se definirá pela verdadeira intenção de quem o oferece. Já fui beijado por quem me queria bem e por quem brincava com meus sentimentos. Já beijei pela praxe do momento de sexo sem amor. Há beijos que são lindas lembranças e outros que representam terríveis pesadelos, e outros que nada significam (provavelmente esses são os mais tristes). Mas como, previamente, saber a intenção contida no beijo ofertado? Não há como! Convivem-se anos com alguém, para se descobrir nessa pessoa alguém desconhecido. E isso vale para os amores, parentes, amigos, colegas, conhecidos, vizinhos, … Jean Rostand dizia que “um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido”, e talvez por isso nos enganemos sobre a intenção nele contida. Mas sempre preferirei acreditar que o beijo que recebo contém afeto. Ainda me lembro minha dificuldade de aceitação, quando, pela primeira vez, li a dura frase de Augusto dos Anjos (“O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que afaga é a mesma que apedreja.”). Quero ver no beijo a parte poética e apaixonada. O afeto alegre! Mesmo que, como sinos, me soem as palavras de Shakespeare: “Estas alegrias violentas têm fins violentos/Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora/Que num beijo se consomem.”
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Alfred de Musset, C. Drummond de Andrade, Pablo Neruda, Florbela Espanca, São Mateus, Jean Racine, Jean Rostand, Augusto dos Anjos, Shakespeare
Realmente, há beijos e beijos !
Na sociedade moderna, o beijo do encontro, de forma alguma representa afeto .É mera formalidade!
Assim como você, acredito no amor e quando dado dessa forma, adoça a alma
Numa explosão de carinho , Acho delicioso essa manifestação!
Todos nós precisamos de afago e de nos sentir amados
E quando recebemos um beijo verdadeiro , aumentamos nossa auto estima e adquirimos a certeza de que o AMOR é fundamental na vida !
Texto gostoso , que nos leva a refletir sobre a importância do nosso discernimento!
Parabéns Fernando ; meu poeta preferido !
Maria, obrigado por seu comentário. Esperamos contar com seu apoio, acompanhando as demais publicações do Projeto. E nunca é demais lembrar de que seu vasto conhecimento, nos mais diversos campos, poderia nos brindar com um texto autoral para publicação. Saudações.
Mais uma vez vc se superou- passou por todas as nuances do Tema : do prazer e desejo à vingança e desprezo!
e seu fechamento com Shakespeare foi ápice da Inspiração.
Texto para guardar e revisitá-lo periodocamente!
Ouvi da Sociedade Líquida e Agora Já Me Trazem Que a Etérea Está Chegando. Nem Líquida Mas realmente Gasosa. No Beijo talvez um Dos Símbolos Que mais Se Perdeu Como Bem Vc Retratou e Que Não É Um Privilégio Da Modernidade. Por Outro Lado o Beijo Do Consolo Do Machucado Ainda Me Encanta. Foi Nele Que Me Despertou para o Beijar. Foi Nele Que Percebi Que Um Beijo Pode Acalmar a Alma. Não Somente Atear Nela Fogo Consumidor.
Realmente, há beijos e beijos !
Na sociedade moderna, o beijo do encontro, de forma alguma representa afeto .É mera formalidade!
Assim como você, acredito no amor e quando dado dessa forma, adoça a alma
Numa explosão de carinho , Acho delicioso essa manifestação!
Todos nós precisamos de afago e de nos sentir amados
E quando recebemos um beijo verdadeiro , aumentamos nossa auto estima e adquirimos a certeza de que o AMOR é fundamental na vida !
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Parabéns Fernando ; meu poeta preferido !
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