“Nas favelas, no Senado/Sujeira pra todo lado/Ninguém respeita a Constituição/Mas todos acreditam no futuro da nação”  (Renato Russo)

O Brasil é um país estranho, onde não é só conhecimento empírico que se sobrepõe ao conhecimento, mas a própria falta de conhecimento se impõe. Me lembro aqui de uma situação de trabalho, onde um grave erro ocorreu, pois alguém entendeu que “prontamente” era igual a “imediatamente”. Não é! Prontamente significa quando estiver pronto para fazer algo ou para algo ser feito. Isso pode ser agora, amanhã ou demorará mais de ano. Da mesma forma, ouço pessoas falarem sobre esquerda, direita, comunismo, capitalismo, socialismo, … Peça a elas as respectivas definições e não saberão dá-las. Ou seja, as pessoas falam com “propriedade” sobre o que desconhecem. A política e a economia são ciências com conceitos e definições próprias.  Dá até para entender em um país onde pessoas prescrevem medicamentos sem conhecimento bioquímicos. Aliás, tal conhecimento falta inclusive a alguns médicos. Então vejamos: 1) O comunismo é um movimento político que defende a formação de uma sociedade sem classes sociais, onde os meios de produção sejam propriedade comum. (Uma definição política que envolve a sociologia e a economia.); 2) Capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção e sua operação com fins lucrativos. (Uma definição econômica); 3) Socialismo é um sistema de organização social e económica fundado na propriedade pública e na administração coletiva ou estatal dos meios de produção. (Uma definição política e econômica). Socialismo e comunismo se aproximam mas diferem e ambos são antagônicos ao capitalismo. Esquerda e direita são outra coisa. O movimento político de esquerda defende o controle feito Estado, como solução para que exista igualdade entre os cidadãos. Assim, o Estado deveria ser o responsável por controlar o funcionamento de vários setores da sociedade, além de ser responsável por proporcionar educação, saúde, trabalho e outros direitos básicos aos cidadãos. Em regra, sistemas como comunismo e socialismo serão de esquerda, mas a esquerda poderá também ser capitalista. Por outro lado, a direita entende que a sociedade será mais bem organizada se os direitos individuais tiverem prioridade sobre os direitos de todos, ou seja, da coletividade. Então, ela defende que o poder do Estado seja limitado, que os governos não tenham tanto poder sobre o funcionamento e a regulamentação dos setores da sociedade e das empresas. Obviamente, a direita estará em diapasão com o capitalismo e sempre contrária ao comunismo e ao socialismo. Pare! Analise o cenário atual! De cara, você verá com quanta contradição e impropriedade são ditas coisas pelas pessoas, pela mídia e pelas autoridades. Com esses conceitos você pode refletir e verificar seu real posicionamento e não se colocando favorável ou contrário sobre aquilo que não consegue definir, ou que é apresentado de forma errada na mídia ou por determinadas pessoas ou grupos. Ademais, a esquerda e a direita são movimentos, e sofrem ações e reações. O quanto o direitista Chirac, na França, não se portou como de esquerda à luz do cenário do país durante seu mandato? Luc Ferry demonstra como a esquerda com as rupturas causadas em diversas áreas permitiu a transformação que originou o capitalismo de consumo. Na Europa e EUA existiria hoje uma crise existencial nos capitalistas de direita (tradição familiar x mudanças comportamentais nas empresas). Muitas vezes esses conceitos se tornam mais confusos com agregados religiosos. Camus dizia que não pode haver socialismo cristão (Ou se escolhe a história ou a esperança religiosa). Analise um país fundamentalista islâmico! Tudo isso se mistura. Mas precisamos entender os conceitos. A comunicação falha permite, mais que conflito, trazer manipulação. Mas uma coisa é certa, esquerda e direita se encontram nas extremidades, como em um círculo. Regimes conduzidos por movimentos extremos sempre acabaram por privilegiar líderes, oprimir (por violência ou economia) pessoas e espalhar corrupção. Portanto, cuidado ao usar termos e optar por lados. O seu desconhecimento quanto aos significados pode levá-lo a algum lugar pior do que aquele onde se encontra. Ferry cita que “muitas vezes a direita é cega demais, e a esquerda usa de má-fé – situação que não é saudável e que contribui … para lançar descrédito sobre o conjunto da classe política”. Essa visão, sob a ótica europeia, se agrava em um país como o Brasil, onde os discursos diferem, mas as práticas são a busca de formação de fortunas privadas ou privilégios econômicos pelos políticos a partir do dinheiro público e garantias de tratamentos diferenciados. Talvez o Brasil continue tendo aquela sociedade colonial (hábitos, práticas e economia) sob uma veste republicana (eleições livres) de políticos que acharam um caminho para comporem a aristocracia imperial (sistema de privilégios), apesar de serem plebeus. Há muito que se refletir antes de se levantar quaisquer bandeiras nesse país.

Autor: Fernando de Castro Sá

Autores citados: Renato Russo, Luc Ferry