“Um porvir sustentável é aquele da descoberta das múltiplas faces da Realidade. (Basarab Nicolescu)”

O mundo quântico não possui certezas absolutas, mas sim certezas prováveis. Dentre os conceitos básicos para entender-se a física quântica, estão: (i) tudo que podemos saber são probabilidades e (ii) a medição determina a realidade. O mundo quântico é o mundo das probabilidades. Portanto, a realidade também é potencial ou possui escalas, pois está sempre em atualização. O conhecimento lógico e racional desta realidade envolve um processo dinâmico de saber (conhecer). E, aqui, Lupasco inova com a visão quântica. Ele entende que há um processo dinâmico com três aspectos (homogêneo-heterogêneo-estado T), ou estrutura ternária. Historicamente, o saber era fruto de uma certeza incontestável (saber aristotélico), que veio a ser objeto de dúvida absoluta por Descartes, para quem de tudo se deveria duvidar. E nesse afã da filosofia moderna, Hegel estabeleceu que o saber deveria ser fruto da dialética (tese+antítese=síntese), ou seja, uma estrutura ternária onde o antagonismo vai propiciar o encontro da solução da dúvida, ou seja, a obtenção do conhecimento da realidade. Em um primeiro momento, poderia parecer que Lupasco repetia a lógica racional de Hegel associando algum aspecto, mas não é verdade. Para Luspaco há um elemento (A) e um não elemento (não-A) – não necessariamente contraditório – e um terceiro incluído que traz a potencialização da realidade conhecida. Afinal, a realidade é potencial pois está sempre se atualizando. Nicolescu ensina que a “Realidade não é somente uma construção social, o consenso de uma coletividade, um acordo intersubjetivo. Ela apresenta também uma dimensão trans-subjetiva, pois um simples fato experimental pode arruinar a mais bela teoria científica”. O terceiro incluído (estado T) representa os níveis de realidade (realidades potenciais ou prováveis), mas, certamente, há uma coerência entre os diferentes níveis de Realidade, pelo menos no mundo natural. E, por isso, temos o conjunto dos níveis de realidade, tanto do objeto quanto do sujeito, complementados por uma zona de não resistência. Essa zona é o denominado sujeito oculto que permitirá a unificação dos níveis de realidade do objeto e do sujeito, por interdisciplinariedade. Assim, se estabiliza o problema da separação entre objeto e sujeito, que foi enfrentado por diversos filósofos (Husserl, Heidegger, Gadamer e Cassirer). Esse terceiro incluído é o terceiro misterioso entre Sim e Não, Bem e Mal, entre Belo e Feio, entre Verdadeiro e Falso. Há certezas prováveis, mas não absolutas. Lembremos do experimento de Schroedinger: o gato na caixa está vivo ou morto? Tudo é potencial. Outro aspecto importante é que, se para Hegel a síntese é fruto da tese mais antítese, tudo em processo sequencial, o terceiro incluído de Lupasco é concomitante. Portanto, a Realidade é transrracional, já que o terceiro oculto condiciona a circulação da informação entre objeto, sujeito e os diferentes níveis de realidade (níveis de compreensão, numa fusão do saber e do ser) de ambos. Há então uma única realidade plúrima pelas probabilidades. Saber e ser coerentemente a essas probabilidades permitirá viver de forma sustentável, ou seja, de encontrarmos a boa vida, própria a quem se aproxima de conhecer a essência da existência.

Autoria: Fernando Sá

Autores citados: Basarab Nicolescu, Stéphane Lupasco, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Edmund Husserl, Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Ernst Cassirer