“A alma pode sugerir paixões e o corpo pode pedir prazeres, mas a consciência é quem vai colocar o peso na balança do desejo.” (Leonardo Campos)
Kierkegaard disse que “sem pecado, nada de sexualidade, e sem sexualidade, nada de História.”. Mas, ele não reduz tudo a sexualidade como Freud, pelo contrário, ele diz que “enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual não existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que não é possível recuperar nem nesta vida… nem na futura”. Por seu turno, Theodor Adorno nos ensina que “o amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante”, dizendo que o amor é um eco e que exige concretude, consequentemente negando a existência do amor platônico. Talvez, por isso, Pondé fale que quem ama todo mundo na verdade não ama ninguém. O oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença. O ódio é o oposto da paixão, um sentimento inato e inconsciente, que gera a perda da autocrítica e do discernimento. Justifica-se que a paixão venha da alma. Talvez o desejo venha da paixão. Assim como a água que aquece e resfria rápido, o desejo se desfaz rápido com a satisfação, gerando substituição instantânea. Às vezes, há a substituição sem sequer a satisfação, só pela existência de dificuldade maior, como no comportamento do perverso. Então os prazeres adviriam da paixão e consequentemente da alma, como frutos do desejo. O corpo é só o instrumento da alma. Os prazeres e desejos estarão sempre na balança, que envolve paixão. Eles só virão de sentimentos firmes, como o amor, a solidariedade, a amizade, …, quando tocados pela consciência (discernimento e autocrítica). Nas palavras de Henri Bergson: “Se consciência significa memória e antecipação, é porque consciência é sinônimo de escolha”. Mas posso estar enganado pois Jean-Jacques Rousseau lecionava que “a consciência é a voz da alma, as paixões são a voz do corpo”. Mas nunca fugimos dos gregos clássicos para quem paixão (pathos) era doença, e daí se origina a palavra patologia. Por outro lado, eles também possuíam três palavras para amor, com diferentes significados: eros (amor ciumento e possessivo), philia (amor da amizade) e ágape (amor pelo próximo ainda que um inimigo). Como sempre, na Filosofia, nunca se determina nada e se iniciam novos questionamentos. Pois nunca se saberá tudo, tudo será relativo e todos os dias nos descobrimos e nos reinventamos.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Sorgen Kierkegaard, Theodor Adorno, Luiz Felipe Pondé, Henri Bergson, Jean-Jacques Rousseau