Na sociedade consumista massificada, vale o ditado inglês de que “o absolutamente certo e o absolutamente errado depende do que a maioria está fazendo”. Consequentemente, ou você se adequa a esse fazer ou você estará fora do padrão. Só há aceitação para quem se adequa. E estar fora do padrão pode ser, filosoficamente, positivo (coerência a princípios e valores flexibilizados pela massa – honestidade, sinceridade, lealdade, …) ou negativo (adoção de práticas que representam atos contrários a princípios e valores, mas que trazem risco para a sociedade massificada e consumista). Se você está fora do padrão positivamente, sua não aceitação se iniciará pela denominação de louco, muito mais que autêntico. A palavra “autêntico” tem por significado a certeza de uma procedência (região, local de fabricação, …), mas é usada por analogia como lídimo, justo, verdadeiro, sincero, … Neste segundo sentido ser autêntico significa uma adequação, ou não, a sociedade conforme os princípios e valores que fundamentam essa sociedade. Na atual sociedade de consumo, onde, como dito, valores e princípios são tão flexíveis, que ser autêntico pode significar estar agindo consoante valores e princípios mais rígidos. Não diria aqui que ser autêntico é estar sendo coerente, pois coerência, que na nossa sociedade parece virtude, é considerada filosoficamente algo negativo, como sinal de excesso de rigidez. Oscar Wilde a considerava a virtude dos imbecis e Nelson Rodrigues a julgava sempre suspeita. Vale aqui a frase de Antonin Artaud: “E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.”. A sociedade afasta o autêntico, por ser sinal de risco à massificação, etiquetando-o por louco (aquele que não é digno de atenção). O preço de ser autêntico pode ser alto, não economicamente, mas pelo assédio moral que essa sociedade vai impingir a tal pessoa. Ela se torna um calo que incomoda, ainda que tendo sua credibilidade abalada ao ser taxado de louco. Não sei se esses são os verdadeiros homens, mas carregam pesados fardos. Isso é um pouco de várias histórias pessoais. Alguém, ao ser questionado sobre conhecer tal pessoa, oferecerá aquele olhar que diz “aquele louco?”. Talvez parte da falta de mudança da sociedade seja pela falta de coragem ou disposição para ser autêntico, ou seja, não se preocupar com a aceitação por essa sociedade, questionando-a e agindo na reversão de sua padronização.
Autoria: Fernando Sá e Leonardo Campos
Autores citados: Hermógenes, Oscar Wilde, Nelson Rodrigues, Antonin Artaud