“As pessoas egoístas não amam ninguém e menos ainda elas mesmas.” (Erich Fromm)
Quando se fala em humanismo, estamos diante de uma filosofia moral onde os humanos são as figuras principais ou mais importantes no mundo. Ou seja, se valorizar o ser humano e a condição humana acima de tudo. Tem-se uma perspectiva comum da variedade de posturas éticas a atribuir maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade. Ou seja, um conceito mais amplo do que aquele que nomeou um período literário ou o renascentismo. Nos aproximamos mais da psicologia que, sob a ótica humanista, possui a crença de que os seres humanos, como indivíduos, são seres únicos e devem ser reconhecidos e tratados como tais. A psicologia humanista se esforça para ajudar as pessoas a realizarem seu potencial e maximizar seu bem-estar a partir das características individuais de cada pessoa. Todavia, hoje vemos um tratamento humanista que alcança outras ciências no atendimento aos indivíduos. Na área da advocacia, principalmente em questões familiares ou de repressão a formas de discriminação, o atendimento humanista se impõe. Isso se faz deveras importante, sobretudo, porque devemos entender o humanismo como ato, hábito, prática e comportamento, sem conferir-lhe um caráter exclusivamente teórico. O humanismo traz consigo empatia, respeito e reconhecimento, ou seja, aspectos que permitem o convívio diverso e harmonioso. Augusto Cury nos ensina que “o conhecimento humanista produz ideias. As ideias produzem sonhos. Os sonhos transformam a sociedade”. Poderíamos ir além, dizendo que o humanismo liberta os homens, para que se conheçam e se reconheçam e, consequentemente progridam. E com eles progredirá a sociedade. A quebra das barreiras criadas pelos estereótipos impostos pela sociedade se impõe. Carl Rogers nos lembra que “quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior tendência tem para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para progredir num caminho construtivo”. Essa compreensão e aceitação advêm mais facilmente a partir de um convívio social humanista. Portanto, o humanismo se faz o caminho para a melhora da sociedade e do indivíduo, em um ciclo, onde já não se sabe qual precede o outro. Interessante que o humanismo não faz de quem assim age necessariamente bom nem firma a crença de que todos são bons. Significa apenas que há aceitação do indivíduo como ele é com suas positividades e negatividades. Nesse sentido, temos uma sobreposição do racionalismo sobre o emocional. “Ser um Humanista significa tentar se comportar decentemente sem expectativas de recompensa ou castigo depois da morte.” (Kurt Vonnegut) Se o humanismo parece tão congruente, por que soa tão utópico ou incipiente em sua aplicação pragmática? Talvez porque, como leciona Rogers, eu só posso mudar quando me aceito. Talvez mais, quando me aceito e aceito o outro. A aceitação é difícil em uma sociedade na qual, apesar do discurso da diversidade e do individual, estamos tão atados aos padrões. Há uma padronização subliminar até mesmo ao se buscar ou se ser diverso. Alguns incautos diriam que humanismo significa compaixão. Eu diria empatia. “A compaixão é pior que a morte.” (Sêneca) A compaixão tende a caracterizar uma tolerância por pena (dó), ao contrário da aceitação e entendimento da condição do outro. Sobre outra ótica o humanismo é em si uma forma reflexiva de ver o outro, não em uma imagem perfeita ou em uma imagem reproduzida, mas no reconhecimento de uma imagem real que nos vê de igual forma com a diferenças individuais que as diversificam. Não há como se negar que o humanismo gera uma vida boa, pois harmônica e tranquila no enxergar, aceitar e conviver. Existe, então serenidade. “A felicidade não existe. Só a serenidade.” (Luc Ferry) Ferry lembra que a serenidade é a vitória sobre o medo. Quando se aceita o outro e nos aceitamos como somos, convivendo com nossas diferenças, inexistirá o medo do outro ou o medo de si ou do julgamento de outros sobre si mesmo. Eis a serenidade. O humanismo possibilita essa serenidade como efeito reflexo. A serenidade representa o fim da angústia em sentido amplo, lembrando que, por vezes, a cura da angústia patológica não significará necessariamente a cura da angústia metafísica. Então, me pergunto, por que as pessoas têm tamanha dificuldade a incorporar um comportamento humanista? “O objetivo da educação na vida não deve se basear somente em adquirir conhecimentos, mas também em aprender os valores humanos.” (William S. Burroughs) Pois é…
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Augusto Cury, Carl Rogers, Kurt Vonnegut, Sêneca, Luc Ferry, William S. Burroughs