“Mede-se o nível de corrupção de um povo pela aceitação da mentira e a rejeição da Verdade.” (Efésios 4:5)
Em regra, fala-se em rejeição com foco em um ato de não acolhimento afetivo de uma pessoa ou grupo. Mas, a rejeição não tem nada a ver com desamor. Muitas vezes, ela pode ser vista mesmo quando há amor, mas o amor que se obtém não é o amor que se esperava, ou que se acreditava a si devido ou a si merecido. Outras vezes, o sentimento de rejeição envolve aquilo que desejamos e nos é negado, por acreditarmos que temos direito a tudo o que desejamos. Por outras vezes, ainda, a rejeição decorre de uma cumplicidade que se quer e não nos é ofertada. Rejeição também não tem a ver com desrespeito, pois algo pode ser rejeitado, mas respeitado. Rejeição tem tudo a ver com discordar. Eu discordo de um comportamento, de uma ação, de um modelo, de uma forma, …, e o rejeito. Mas isso não significa que aquilo que for rejeitado não vai ser praticado. Isso depende muitas vezes da existência, ou não, de um impositivo legal para adoção ou negação de uma conduta. Rejeita-se, também, pelo julgamento do âmbito da liberdade pessoal na acepção do julgador. E há vezes ainda em que a rejeição caracteriza um ato reflexivo, pois espelha a própria falta de autoaceitação. “Se você não consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se.” (Pe. Fábio de Mello) Por conta disso, me preocupa mais o que se rejeita e como se rejeita, do que a rejeição em si. Quantas vezes não assistimos pessoas rejeitarem de forma ofensiva atos, quando elas são estranhamente lenientes com atos imorais, impróprios ou inadequados, quando não os praticam, para tudo ser pior? Lembro da vizinha que rejeitou ofensivamente um beijo homoafetivo no hall do prédio, ao tempo em que permitia seus cachorros defecarem na área do estacionamento do condomínio sem proceder à pertinente limpeza. Vou além, o motorista do táxi que reclama da corrupção na política, mas não respeita as regras de trânsito. A rejeição das pessoas tende a ser oportunista e incompatível com os próprios atos que exercem. A rejeição só tem lógica quando falamos de atos morais impróprios ou ilicitudes. Nestes casos, ela gera um julgamento coletivo, que permite a coerção social necessária à manutençãoda urbanidade, civilidade e convivência em grupo social. Freud explora o tema em “O Mal Estar na Civilização”. Essa rejeição coercitiva, assim, permite deter os sádicos. Da mesma forma, não pretendo aqui fazer o proselitismo do agrado. Afinal, Fabricio Carpinejar lembra que “fazer tudo para agradar é o caminho mais rápido para a rejeição” já que “todo charme tem um pouco de antipatia”. Concordo! Precisamos ser críticos com inteligência emocional. Assim, rejeitaremos o inadequado, respeitaremos o que deve ser respeitado independente de nossa concordância e não viveremos o agrado piegas dos inferiores. “Às vezes temos que “passar por cima” de nossa raiva, nosso ciúme ou nossos sentimentos de rejeição e seguir adiante. Somos tentados a ficar presos a nossas emoções negativas como se lá fosse nosso lugar.” (Henri Nouwen) Como ensina Drauzio Varella, nós precisamos ser os núcleos de nós mesmos, com autoestima, amor-próprio e afastamento da autorrejeição. Viver assim nos permite uma vida saudável e o alcance da vida boa. “Se não estivermos dispostos a superar o medo da rejeição, sempre nos sentiremos sós.” (Matthew Kelly) Portanto, o sentimento de rejeição não convém aos açodados, apressados e levianos, sob pena de existir ao final um conflito insanável. Hoje, me surpreendo com a rejeição desmotivada e a aceitação do absurdo. Essa falta de logicidade, na era digital, não só faz a sociedade sangrar, como, individualmente, afasta a possibilidade da vida boa.
Autoria: Fernando Sá Autores citados: PeFabio de Mello, Freud, Fabricio Carpinejar, Henri Nouwen, Drauzio Varella, Matthew Kelly