“O silêncio é um amigo que nunca trai.” (Confúcio)
Sou um adepto do silêncio. Sim, gosto desse ambiente de reflexão e paz. Algumas vezes, rompo o silêncio somente com uma música. Aliás, meu comportamento parece ter lógica nas palavras de Aldous Huxley, para quem “depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”. Já me perguntei muitas vezes sobre a razão desse prazer silencioso de viver em minha casa. Acho realmente que ele se dá pelos anos de trabalho na confusão de muito falatório, nas fatigantes reuniões de palavras desnecessárias, ou mesmo no barulho que nos cerca no trânsito, restaurantes e outros locais públicos. É incrível como brasileiro gosta de falar alto, de impor música alta em lugares públicos e indelicadamente nos impor conhecimento de suas questões pessoais quando se utiliza dos celulares. Sei que sou chato, mas poupe-me. Lembro-me de certa vez, que na Igreja de Saint Jorge, em Londres, uma mulher questionou o comportamento de outra que, tagarelando, ecoava pela nave medieval do templo e atrapalhava a concentração dos demais fiéis. Outra vez, lembro de um holandes, em um trem, entre Amsterdam e Roterdam, chamando a atenção de uma mãe, cujo filho, gritava dentro do vagão. No Brasil, esses comportamentos deselegantes são tolerados e, por vezes, quase reverenciados. E não me venham dizer que esse duvidoso comportamento dos brasileiros está adstrito às classes menos privilegiadas. No meu condomínio – de classe média, berram adultos e crianças como se estivessem em um manicômio. Um saco. E essa falação geralmente gera confusão, por óbvio. Schopenhauer já dizia que “da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz”. Me veio a lembrança, aqui, daquelas reuniões em que as pessoas não tem nem uma fala que agregue à discussão, mas fazem questão de tagarelar, o que importa em perda de tempo e ineficiência. “Nada faz realçar mais a autoridade do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos.” (Charles de Gaulle) Nem sempre falar mostra autoridade ou inteligência; mais das vezes, o prolixo prova exatamente o contrário. Ele tende, com uso de palavras em demasia, a demonstrar que não consegue sintetizar o pensamento, a ser cansativo e a arrastar-se a lugar algum. Nunca se presta à dialética, mas tão somente ao tédio. Mark Twain foi preciso ao descrever que, ” como a abelha trabalha na escuridão, o pensamento trabalha no silêncio e a virtude no segredo”. Algazarra é, aos meus olhos, sempre sinal de caos, inclusive mental. “Este impoluvel silêncio em que escrevo e em que tu me lês.” (Mário Quintana). Há ainda os coléricos e mau-humorados que vivem do palavreado, às vezes estridente, que esquecem que, “perante a cólera, nada é mais conveniente do que o silêncio” (Safo). Assim, creio que na maioria das situações, o silêncio acaba sendo a melhor resposta, mas a menor escolha.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Confúcio, Aldous Huxley, Schopenhauer, Charles de Gaulle, Mark Twain, Mário Quintana, Safo