“A educação é a arte de tornar o homem ético.” (Georg Wilhelm Friedrich Hegel)
Ainda não contei a vocês, mas tenho duas graduações, sendo uma delas a Engenharia. Acho que é algo que eu trouxe do berço já que, desde cedo, minha mãe dizia que eu adorava tirar as rodas dos carrinhos de plástico, apesar de raramente conseguir recolocá-las. Horas e horas gastas brincando com o Poli (equivalente vintage do Lego), e similares, sedimentaram essa minha vocação. E eis que me formei em 1986, doido para estrear no palco da vida profissional. E assim o fiz, ainda naquele ano, como engenheiro “borracho” (N.T. Nome dado a pássaros recém-saídos do ninho e outros seres recém-formados naquilo que lhes garantirá a sobrevivência). Essa sempre é uma fase de aprendizado, e por isso é sempre bom ter alguém experiente para orientá-lo… o atualmente chamado Coach, mas que naquela época, menos politicamente correta, chamávamos de “Engenheiro Macaco Velho”. Como não consigo falar com esse meu velho amigo para que ele me autorize a citá-lo, prefiro usar um pseudônimo: vou chamá-lo de Henrique. Estávamos, eu e Henrique, em um canteiro de obras, supervisionando a montagem de alguns andaimes, quando ele se deteve a olhar para o alto. Rapidamente se afastou e cochichou algo no ouvido de “Véio Zuza”, um dos nossos mestres-de-obras, que fez dois sinais para um grupo localizado na passarela superior, pedindo que um dos montadores descesse. Já no chão, Henrique questionou o montador sobre a falta de uso do cinto de segurança. O questionado nada tinha a dizer em seu favor já que o equipamento jazia ao seu lado na plataforma. Henrique imediatamente mandou que ele trocasse de roupa e se apresentasse ao departamento pessoal pois estava demitido. Fiquei perplexo com aquela ação drástica e resolvi questioná-lo ao final do dia. Lembro-me de sua resposta até hoje: “Pode ter parecido drástica, mas te digo que não era a primeira vez que aquele montador descumpria uma regra que era para seu próprio bem, tendo sido inclusive suspenso em outra oportunidade. Não se trata de punir por punir ou dar o exemplo, mas sim de proteger a vida dele, que é pai de família. Se tivesse acontecido, eu nunca teria me perdoado. A lição vai também ajudar no próximo emprego”. Ruminei aquelas palavras por anos e, de certa forma, as incorporei ao que me tornei enquanto profissional. Anos depois, assistindo uma palestra do Mário Sérgio Cortella, sobre ética, me deparei com a seguinte definição: “Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: (1) quero? (2) devo?; (3) posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve”. Uma das maiores discussões no campo da filosofia é se existe uma ética universal, que todos devem seguir, independente de sua cultura, crença ou formação, ou se ela é relativa, variando no tempo e no espaço, como a moral, com quem por vezes se confunde. Prefiro ficar com uma visão intermediária, na qual existem um “núcleo duro”, formado por valores comuns a todos os seres humanos, independente de tempo e espaço, e uma segunda parte que se aprimora ao longo do tempo, mas que ainda integra o seu conjunto de valores mais profundos. Mas ao final, entendo que ser ético vai ao encontro do que disse Cortella. Eu quero? Eu devo? Eu posso? E ao final dessa avaliação, tomada a decisão, seu espírito precisa se manter em paz, já que aquela foi apenas mais uma batalha da guerra que travará por toda sua vida, tendo sua consciência como juiz. E o mais desafiador disso tudo é que, fazer o que é correto, nem sempre significa ser bom no curto prazo, mas fique certo que, no longo prazo, sempre o será.