“A vida exilada do seu sonho é uma viagem sombria.” (Mo Yun-Suk)
Ainda que se defina juventude como o período da vida do ser humano compreendido entre a infância e o desenvolvimento pleno de seu organismo, Sócrates ensina que o que a deveria caracterizar seriam “a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação”, pois são estas as virtudes que devem formar o caráter. Muito dificilmente temos como coadunar a definição e a visão do filósofo, quando detidamente olhamos os dias atuais. Também parece prejudicado o entendimento de Rousseau de que “na juventude deve-se acumular o saber”, para dele se usar na velhice. Nos deparamos com uma conjuntura antagônica à pretensão de Goethe de que “a juventude é a embriaguez sem vinho”. Temos hoje uma juventude que bebe muito, que inicia a vida sexual cedo, com maternidade na adolescência, que interage mais virtual do que pessoalmente, presa a videogames e redes sociais, … Luiz Felipe Pondé fala em uma geração de indivíduos egocêntricos, mimados, insatisfeitos e irresponsáveis. Muito duro? Acho que não. Mas é uma geração assim, pois criada assim. Há um desperdício de uma fase maravilhosa que permitiria descobertas, formação, mudanças e inovação. Fazem válida a frase de George Bernard Shaw, para quem a maravilhosa juventude é desperdiçada em jovens. A juventude deveria ser melhor vivida e aproveitada, pois é um tempo de aprendizado que gera capacidade de compreensão na maturidade (Marie von Ebner-Eschenbach). Os livros já não são, a contrário da visão de Cícero, o alimento da juventude. Ela se alimenta de reels, reality shows, tiktok e outras sofríveis banalidades, que não trazem entendimento e muito menos compreensão. E, assim, me pergunto quem é realmente jovem hoje? Talvez Cocteau estivesse certo ao vaticinar que a “juventude é uma conquista da maturidade”. Será que jovem é realmente aquele que se encontra na juventude? Ser jovem tem a ver com idade cronológica ou estado de espírito? Seria muito mais um comportamento? Quantas vezes nos deparamos com pessoas mais velhas que possuem uma jovialidade que não encontramos na maioria dos adolescentes que conhecemos? Platão dizia que “de todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar”. Mas, hoje, os jovens cronológicos estão domados pelas marcar, pela massificação, pelos aplicativos, videogames e idolatria. Triste! Todos querem ser diferentes sendo absolutamente iguais na imagem e comportamento. Se mantêm seguros atrás de telas de celular ou em grupos de intenções duvidosas. Se olharmos com cautela, veremos que esta é a época de maior avanço tecnológico e mudanças individuais, mas nunca se evoluiu tão pouco sob a ótica coletiva ou humana. Vivemos uma época de desamor e falta de empatia, sob uma duvidosa defesa de diversidade, muitas vezes meramente oportunista, ou de cunho individual. Como dizia Che Guevara: “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética.”. Mas a revolução que se prega não é para todos, mas para grupos de interesses definidos. Se perdeu um equilíbrio tão bem expresso por Cícero: “Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais.”. Me pergunto se restaram almas na juventude que hoje se apresenta. Talvez esteja sendo muito azedo, mas me assusta o que vejo e o que gerarão, a sociedade que se moldará pelo modelo vigente. Uma juventude que não debate nem contesta, se eximindo sob os segregadores “lugares de fala”. Uma juventude que se infuencia por elementos, autodenominados “influencers”, e que nada mais são que as novas ferramentas de marketing do capitalismo virtual. Onde foram parar a jovialidade e a autenticidade da juventude? Há muito que se refletir. Me ocorre agora a fábula de Esopo sobre a jovem raposa e o leão. Moral da história: da familiaridade nasce o abuso.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Mo Yun-Suk, Sócrates, Rousseau, Goethe, Luiz Felipe Pondé, George Bernard Shaw, Marie von Ebner-Eschenbach, Cícero, Jean Cocteau, Platão, Che Guevara, Esopo