Com certa frequência, tenho encontrado pessoas que levam vidas das quais não gostam, e das quais, por vezes, reclamam já que subjugadas a terceiros. O jugo, mais das vezes, decorre da dependência econômica e/ou psicológica. Pessoas sem forças, para dizer basta e tomarem as rédeas de suas vidas. Alejandro Jodorwsky diz que “pássaros criados em gaiola, acreditam que voar é uma doença”. E ele aconselha: “Para se definir: conceda a si mesmo todas as possibilidades de ser, mude caminhos quantas vezes achar necessário.”. Mas essas pessoas, ainda quando reclamam do incomodo de uma vida orientada por outros, não mudam. Muitas vezes, vejo um medo que faz com que o desconforto lhes seja mais cômodo. Não entendo! Há uma falta comprometimento consigo mesmo, com seus sonhos. São planos de vida natimortos ou uma sabotagem aos próprios desejos e à busca necessária da felicidade; tantas vezes nulidade. Ou será que as pessoas podem ser felizes na infelicidade? “O único mal é carecer de ideais, escravizando-se às contingências da vida prática imediata e renunciando à possibilidade de perfeição moral” diz José Ingenieros. Eu iria além, para falar da possibilidade de ser feliz e se negar a isso. Como não lançar velas, sentir o vento, sangrar o mar e buscar o destino almejado? “Se a meta principal de um capitão fosse preservar seu barco, ele o conservaria no porto para sempre.” (São Tomás de Aquino) Haverá espinhos, mas também a beleza da flor. E se der tudo errado? Tentou-se, não se passou o tempo empurrando a vida desenhada por outrem, e que, mais das vezes, não chega onde o dominador pretendia e só frustra mais o submisso. Falta sucesso até no que lhe foi definido por quem lhe dirige. O primeiro dever de um homem é pensar por si mesmo, nas palavras de Jose Marti. A submissão, sobretudo, significa nulidade. O submisso não existe; ele é um fantoche, um títere. Viver é ser livre; livre para escolher, decidir, acertar, errar, …, mas por si mesmo. “A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço.” (José Martí) O preço da submissão é alto demais, ainda que no longo prazo. Viver submisso não é viver, mas vegetar. A submissão corrói o ser, fazendo dele uma casca, um morto-vivo. Todavia, seria muito fácil vitimizar o submisso e criminalizar o dominador, o que seria uma visão simplista e injusta. Há submissos culpados, pois suas inações frequentemente decorrem de situações de conforto. Eles pesam o conforto, geralmente material, como mais importante que a liberdade de serem eles mesmos. Em regra, os submissos cientes disso, são os que mais reclamam, como se as reclamações possibilitassem esconder suas inações voluntarias. Trata-se do teatro da justificativa. Em muitos desses casos, o dominador pode ser uma vítima, principalmente quando se reverte o quadro, e ele se se torna refém da responsabilidade pela vida do doutro. Dominar deixa de ser um poder e se transmuta em obrigação. Dominar tem a ver com prazer/desejo e não com dever. Ainda que essas situações de submissão possam se revertam tarde, sempre é melhor do que nunca se reverterem, a bem do submisso, e por vezes ao próprio dominador. A vida é um dom, mas viver não é fácil. A tarefa cabe a cada um que recebeu tal dom. Viver é ser dono de si.