“Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.” (Florbela Espanca)
Quantas vezes já ouvimos falar sobre o sentido da vida? E quantos de nós já foram, em algum momento, aconselhados a dar sentido às suas vidas? “O que eu sei sobre Deus e o sentido da vida? Eu sei que este mundo existe.” (Ludwig Wittgenstein). Parece estranho que a vida exija um sentido, quando ela é tão complexa, adversativa, surpreendente, … Kafka era fulminante ao determinar que “o sentido da vida é que ela termina”. Devemos mesmo nos deter em analisarmos o sentido da vida? Paulo Coelho desaconselha tal comportamento sob a alegação verdadeira de que “viver é experimentar”. Mas viver é tanta coisa, e experimentar é só uma delas. E o Emicida vai além, lembrando que “enquanto buscam o sentido da vida, eu vivo ela”. Ele complementa com perspicácia, que o sentido da vida é “pra frente”. Mas a vida tem um sentido, ou nós damos um sentido a ela? Poderíamos ser simplistas com Alan Watts que entende que “o sentido da vida é estar vivo”, ou com Rubem Alves, para quem “o sentido da vida é um sentimento”. Isso também parece tão pouco diante do tamanho da vida por mais curta e perene que ela seja. “O sentido da vida, é o que você quiser que ele seja. Nós somos o universo contemplando a si mesmo.” (Stephen Hawking) Talvez, esse seja o segredo, pois o mundo é o que construímos e, portanto, nós damos sentido às nossas vidas como pequena parte de tal construção. Esse sentido pode ser tão complexo quanto a vida o é, ou tão simples quanto se queira. Não há regra, e o sentido não será o mesmo, pois cada um tem, vive e administra sua própria vida. E não se vá dizer que que não dar sentido à vida significa abrir mão dela. Pois cada um a terá no sentido que entendeu melhor, que não necessariamente é, ou tem que ser, o de quem lhe julga. Por várias vezes, ouço dizer que suicidas não deram sentido às suas vidas; não me parece. Suicídio tem a ver, normalmente, com a resolução de um problema aparentemente insolúvel, salvo pela morte. O fim da dor é avidamente desejado, que a vida fica sob um aspecto marginal. Camus, em “O mito de Sísifo” adentra na visão filosófica do suicídio, a contrário senso das habituais avaliações psicológicas ou sociológicas sobre o tema, o que demonstra que mesmo o suicida dá um sentindo a vida. Voltando a Kafka, o suicida estaria abreviando o sentido da vida, ou seja, seu término. Estranho que sempre parece que a busca do sentido da vida significa a busca para solução de uma situação negativa, da fuga de uma dor, da mudança para melhor de uma condição material, … O colombiano Samael Aun Weor, dentro de sua visão ocultista, entende que “cada um deve descobrir por si só o sentido de sua própria vida e aquilo que o mantém preso ao cárcere da dor”. Mas quando estou bem, feliz, estabilizado não preciso conhecer o sentido da vida? Ou será que tais condições derivam do meu conhecimento sobre o sentido de minha vida ou do sentido que imprimi à minha vida? Talvez esteja sendo tão confuso quanto Niels Bohr em seu corolário de que “o sentido da vida consiste em que não tem sentido nenhum dizer que a vida não tem sentido”. Mas desde já, ao avaliar os diversos pensadores comentados, entendo que o sentido da vida pode ter duas projeções: direção e fundamento. Se há disparidade quanto ao fundamento, parece existir comunhão quanto à direção. A vida deve sempre ser dirigida para a frente e nuca vivida em razão do passado. “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.” (Dalai Lama) Afinal, “viver ultrapassa qualquer entendimento” (Clarice Lispector). O sentido da minha vida é avante, e com isso aprendi a aceitar a mudança constante que a vida exige. Mas meu fundamento é buscar ser decente por mais mesquinho que o mundo se torne dia após dia. Me cabe fazer a minha parte, ainda que outros não façam as suas. Me cabe ser justo, caridoso, sincero e íntegro; esse me parece o sentido da vida que persigo enquanto fundamento. Erro por ser humano, e me redireciono por princípio. “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.”(Charles Chaplin)
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Florbela Espanca, Ludwig Wittgenstein, Franz Kafka, Paulo Coelho, Emicida, Alan Watts, Rubem Alves, Stephen Hawking, Albert Camus, Samael Aun Weor, Niels Bohr, Dalai Lama, Clarice Lispector, Charles Chaplin