“A raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram.” (Shakespeare)
Indiscutivelmente, William Shakespeare (“O Bardo”) é o maior dramaturgo da história, tendo gerado um sem-número de tragédias, comédias, sonetos, … Além de ter cunhado frases, o poeta inglês ofereceu 1.700 novas palavras à língua inglesa. 400 anos após seu desaparecimento, sua obra continua atual e sendo apresentada no teatro, cinema e em todo tipo de mídia. Entende-se por que sua obra continua influenciando tanta gente e ainda inspira a tantos trabalhos acadêmicos. Ressalto aqui o livro de Leandro Karnal: “O que aprendi com Hamlet”. Karnal é cirúrgico ao dizer que Hamlet significa “uma chance para você ser ou não ser, tudo depende da sua vontade e capacidade de escalar a montanha da consciência”. Vou me ater aqui às 37 tragédias escritas por Shakespeare, onde, cativantemente, ele deixa o maniqueísmo, em geral, consagrado aos heróis. Os grandes personagens de Shakespeare são humanos e consequentemente imperfeitos. Todos eles possuem pecados, o lado bom e o lado mal, um desequilíbrio, um desvio moral, … São humanos! Na maioria das vezes as tragédias são frutos como consequências, marcadas por tais falhas pessoais, em razão de maus procedimentos oriundos também de outros desvios humanos. A inveja e cobiça do tio Claudio gera o assassinato do pai de Hamlet, e a raiva deste culmina com a morte de todos os personagens da peça, exceto Horácio, que termina sendo o narrador da história. Horácio é quem sobrou para contar a história. Ainda que Romeu seja marcado pela impulsividade, seus familiares (Montequios) e os Capuletos, inclusive Tybalt, são tatuados pela raiva. Se o rei McBeth é movido pela ambição, quanta raiva está contida em Lady McBeth, A raiva também leva Rei Lear a loucura, após seu ato insensato de dividir o reino e entregá-lo às filhas. Em “Júlio Cesar” a raiva está presente no sobrinho Brutus que ajuda a assassinar o tio que o amava. O Bardo nos ensina que independentemente dos sentimentos obscuros (ambição, cobiça, inveja, ciúmes, pretensão, arrogância), quando eles importam em atos que emanam raiva, um desastre está por vir. Mesmo a busca do justo, quando movida pela raiva, culminará em vingança e não em justiça. Em “Otelo”, o personagem Iago faz prova disso. O domínio da raiva é o segredo. Aprender como transformar raiva em força positiva é pedra angular. Gosto da frase que diz: “Não serei injusto nem mesmo com quem me magoou.”. Podemos dizer que, pelo menos a 400 anos, pudemos aprender que a raiva não é a senhora da bonança, mas sim da destruição e da ruína. Parece que não aprendemos, e basta as estradas do Brasil, na última semana, para provar isso. Não haverá vida boa para quem é movido pela raiva, ainda que creia que esteja só prejudicando a vida do odiado.