“(…) Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções.” (Caio Fernando Abreu)
Quando vem chegando meu aniversário, acabo entrando em uma melancolia. Me bate uma tristeza nessa época. Lembro de Mario Quintana dizendo: “Melancolia: Maneira romântica de ficar triste”. Acho que isso se dá pelos meses de setembro e outubro, que são meses chuvosos. Me considero uma pessoa solar. Vários dias sem sol não me fazem bem. Imagino como deve ser triste morar em regiões isoladas que não tem iluminação natural por longos períodos. Já li em algum lugar que nesses lugares a taxa de suicídio é maior. Prefiro praia, trilha, contato com a natureza, longas tardes ensolaradas. Olhar a chuva batendo na janela com uma xícara de chocolate quente é bom, mas só esporadicamente. Eu sei que tem gente que gosta desse clima, de ficar sozinho, olhando para o além, remoendo sentimentos e emoções. Às vezes é necessário, mas isso não pode virar um hábito. Vejo que vários artistas, em seus momentos mais criativos, foram inspirados por momentos de melancolia. Poesias, pinturas, músicas, entre outras obras. Mas em contrapartida grandes outras coisas foram feitas com a alegria solar. Sempre digo que me permito apenas um dia de tristeza quando coisas ruins acontecem na minha vida. Procuro não me entregar completamente a tristeza. Considero esses momentos como verdadeiros impulsos, para que eu possa sair de uma nuvem negra para um céu completamente limpo. Procuro essa força porque eu sei que a gravidade do fundo do poço exerce uma força por muitas vezes invencível. Daí para uma depressão é um pulo. Já estive lá e não quero voltar. Permito que as estações tragam seus ensinamentos, mas sempre espero que o inverno passe logo e que a primavera tenha forças para limpar o céu. Lya Luft tem uma frase boa que gosto de ler nessas transições: “Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu.”