LIBERDADE DE PENSAMENTO NÃO É DIZER OU FAZER O QUE LHE VEM À CABEÇA!
“Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.” (Albert Camus)
A primeira coisa que temos que entender é que a liberdade de pensamento não garante o direito de expor tudo o que se pensa, ou pelo menos de fazê-lo sem riscos de responsabilização. Assim, existem os levianos, que falam ou fazem qualquer coisa que lhes vem à mente, ainda que sem fundamento ou com carência de verdade. “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.” (Leon Tolstói) Na verdade, como dizia George Bernard Shaw, a “liberdade significa responsabilidade”. E, por tal razão, ele complementava sua visão com o entendimento de que muita gente, quando responsável, tem medo da liberdade. Aliás, Freud comunga do mesmo entendimento sobre o medo da liberdade por força da responsabilidade que ela traz. Infelizmente, na “era das fakenews”, liberdade passou a ser sinal de virulência irresponsável. Todos podemos pensar livremente, gerando convicções, rejeições, aprovações, … Mas a expressão de tais conclusões ou expressões do pensamento deve ser objeto de ponderação, porquanto se possa ser responsabilizado por ela. O pensamento, nas palavras de Freud, é o ensaio da ação. O pensamento, ou seu resultado, quando expresso não pode ser ofensivo às normas legais ou morais, sob pena das devidas sanções. Por isso Montesquieu ensinava que “liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”. A liberdade está sempre limitada à liberdade do outro. Portanto, não se pode alegar liberdade como defesa do vilipêndio à liberdade do outro ou da coletividade. “Uma conduta irrepreensível consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia.” (Voltaire) Consequentemente, a liberdade de pensamento não justifica discurso de ódio, racismo, homofobia, xenofobia, … Isso não é liberdade, caracterizando somente ilícitos penais e condutas imorais ou mesmo amorais. Essa leviandade e criminalidade está bem longe de poder ser confundida com coragem ou autenticidade. Aliás, Comte dizia que “a liberdade é o direito de fazer o próprio dever”. Existe, hoje, uma visão equivocada sobre a liberdade de pensamento e consequentemente de conduta. O mais grave é que essa visão acaba abrangendo vilões e vítimas, pois não se tem mais equilíbrio entre ações e reações. Vê-se a cadeia disruptiva da sociedade de uma forma grave, pois quando o ser humano perde o constrangimento natural pela lei e a moralidade, ele, facilmente, se torna um sádico. Freud explora isso bem em “O mal-estar na civilização”. Na Revolução Francesa, ao lema, que seria “liberdade e igualdade”, se juntou a palavra fraternidade, pois a liberdade, sem fraternidade, pode ser contrária à igualdade. Sartre dedilha bem essa música ao informar que “um homem não pode ser mais homem do que os outros, porque a liberdade é semelhantemente infinita em cada um”. Nota-se então que a liberdade, que se inicia pelo pensamento, deve ser responsável, para que sendo justa, não fira a liberdade do próprio ou da sociedade, sob pena de uma ruptura legal e moral, a qual afligirá toda a sociedade responsável. Vivemos esse caos social nessa “era de fakenews”, onde tanto se pede o poder da palavra sem responsabilidade com o pensamento ou com as consequências da própria palavra. “O povo pede o poder da palavra para compensar o poder de livre pensamento a que ele foge.” (Soren Kierkegaard) “Pensar” e “pensar livre” exigem reflexão, conhecimento, estudo, análise, discernimento, cautela, virtude, empatia, moralidade, … Só assim, o pensamento terá por resultado o bem, e a ação consequente será útil a todos.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Albert Camus, Leon Tolstoi, George Bernard Shaw, Freud, Montesquieu, Voltaire, Auguste Comte, Jean-Paul Sartre, Soren Kierkegaard