“A vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para diante.” (Soren Kierkegaard)
Certa vez, Pushkin disse que “o respeito pelo passado – eis o traço que distingue a instrução da barbárie; as tribos nómadas não possuem nem história, nem nobreza”. Mas por que seriam nobreza e história tão importantes? A nobreza de caráter e comportamento traz o exemplo, enquanto a história traz um sentimento comum a quem dela compartilha. E os museus são em grande parte locais de testemunho de nobreza e história. Infelizmente, a maioria das pessoas não conhece a diferença entre Estado (conjunto dos poderes e órgãos de governo de um país) e nação (grupo de pessoas que compartilham tradições, idioma, cultura, religião e/ou passado comum, que as une por um sentimento comum). Por isso um Estado pode ter várias nações (por exemplo: Bélgica, França, Espanha, …) ou uma nação pode estar espalhada por vários países (judeus, bascos, …). Dostoiévski nos lembra que nenhuma “nação pode existir sem uma ideia sublime”, enquanto Goethe repisa que “o declínio da literatura indica o declínio de uma nação”. Também o desprestígio, destruição e descuido para com os museus são atos contra a nação. O museu deve representar a nação e não o Estado. Grandes líderes souberam, desde a antiguidade, se portar em defesa do Estado, mas para garantia da nação, ou nações, dele integrantes. Valem as palavras de Churchill, durante a II Guerra: “É melhor morrer em combate do que ver ultrajada a nossa nação.”. É muito mais fácil aos mal-intencionados controlarem um Estado (domínio dos órgãos de poder) que uma nação. Um exemplo disso tivemos, na França, com o regime colaboracionista (França de Vichy) que foi liderado por Philippe Pétain, durante a II Guerra. Portanto, um bom caminho, para a apropriação indevida do Estado, está na destruição ou descaraterização da nação, ou nações daquele Estado. Isso tem sido feito de forma constante por homens ou grupos de má-índole, sejam de direita, de centro ou de esquerda. Muitas vezes, o caminho se faz quando se cria ou estimula a aversão entre grupos nacionais, por vezes dentro de um mesmo Estado, tal qual fez Hitler em relação aos judeus, aos ciganos e outros grupos. Stalin não foi melhor na antiga URSS. Reparem que não se trata de xenofobia, onde a aversão envolve estrangeiros. Geralmente, aquela aversão às nações envolve etnias, religiões, … Portanto, estamos diante de estímulo ao preconceito e ao discurso de ódio, mas, também, à destruição de símbolos históricos, museus, …, bem como, à detratação de personagens históricas. Nos deparamos, desde já, com uma realidade que vem se solidificando por décadas no Brasil, basta vermos a difusão e apoio ao preconceito contra pretos, nordestinos, homossexuais, …, ou o incêndio do museu nacional, ou ainda a detratação de Monteiro Lobato, Tiradentes, … Em um ano de eleição, é importante atentarmos aos discursos dos candidatos, pois poderemos perceber o quanto estes lutam pela melhora e fortalecimento da nação (comunidade) ou pelo domínio do poder estatal. Projetos políticos que não incluem aspectos que tratam dos traços de formação da unidade nacional, assim como, discursos de ódio e preconceito, mostram planos de poder e não de governo. Poderemos perceber isso em candidatos tanto autointitulados de esquerda, de centro ou de direita. Certamente, estes candidatos serão pessoas trabalhando para si, ou a um determinado grupo, e não para a nação brasileira. Comecem olhando para o que tais projetos políticos falam sobre museus. Veja o que candidatos já eleitos fizeram em favor de museus representativos da nação brasileira. Isso dirá muito sobre os reais intentos deles. Fica a dica!