“A alma que abriga a filosofia deve, para a sua saúde, tornar o corpo são.” (Michel de Montaigne)
Nunca fui dado a me preocupar com a saúde. Uma certa arrogância e senso de infinitude dos jovens. E na animada vida de jovem sucedida pela conturbada vida profissional focada no alcance do sucesso, eu me descuidei da saúde. Devia ter lido Freud: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.”. Não havia exercícios, boas noites de sono, alimentação adequada e a tudo acrescido havia doses constantes e volumosas de estresse. E o corpo apresentou a conta com um infarto aos 38 anos. Meu pai tivera o primeiro aos 35, para falecer em um segundo aos 46. Mas, isso não me servira de lição. Diante do meu cenário, melhorei a alimentação, mas os exercícios eram poucos e eventuais, com um estresse que só aumentava. Então, um segundo infarto aos 42 anos. Ainda que tenha, pela dor, tido uma lição para me emendar, doenças parecem chamar outras doenças para lhes fazerem companhia. E neste cenário agravei meu peso de tal forma que necessitei uma cirurgia como meio de solução. E foi aí que entendi, o que estava fazendo a mim mesmo. Era a hora de rever tudo. Por que um estresse dessa ordem? Não havia custo-benefício com relação a meus ganhos de imagem ou patrimônio. Nessa hora, fiz uma mudança radical. Entendi o que importa na vida e que a longevidade exige saúde e qualidade; estava aí o estopim da mudança. Na pele, entendi a lição de Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.” Estranhamente isso se dava aos meus 45 anos, e, sei lá por que, desde jovem achava que aos 45 anos minha vida mudaria. Cuidei da mente com terapia, mudei radicalmente minha alimentação, troquei o foco e repensei meus objetivos, e tudo mudou. Você sente o corpo mudar nos mínimos detalhes. Ainda sou preguiçoso com os exercícios, preciso de algo que me obrigue, já que não se trata de um prazer. Uma personal trainer foi a solução em uma relação que fluiu para amizade. A pandemia me trouxe algum peso e com este as articulações reclamaram. O que fazer? Me amar. Encontrar uma boa nutricionista, aumentar a carga de exercícios, reduzir as noites insones, … Disciplina é tudo. Foram embora 15 kgs. Hoje, caminho na praia às 5hs da manhã e aproveito a mudança da cor do céu, que amanhece, e o barulho e cheiro do mar, para minha meditação. Mantenho treinos regulares. A alimentação mais saudável está incorporada no dia-a-dia, com pequenas escorregadas. Preciso de saúde para que tenha qualidade de vida. Preciso desse equilíbrio de mente e corpo, que me faz feliz. E, afinal de contas, “a alegria evita mil males e prolonga a vida” (William Shakespeare). Me permito agora o tempo que sempre desejei para estudar filosofia, e nela me deparo com o óbvio que demorei a aprender: “O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem.” (Arthur Schopenhauer). Melhor aprender na dor do que nunca aprender!
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Michel de Montaigne, Freud, Oscar Wilde,William Shakespeare e Arthur Schopenhauer