N Sra. nos seja auxílio na travessia furiosa do mar da vida. Nos proteja Inaê. Odaciaba! Odoyá!
Quem não é apaixonado pelo mar? A brisa, o som, as ondas, o movimento, o cheiro, … O mar da poesia, dos cânticos, … Mas também o mar dos náufragos, dos tsunamis e dos segredos profundos. “Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/Mas nele é que espelhou o céu.” (Fernando Pessoa) O mar sempre impeliu a curiosidade e a criatividade dos homens. E ele foi o caminho das descobertas e da expansão do mundo. Deu alimento e dor; que o digam os navegantes. No tempo das cruzadas, aqueles que cruzavam o Mediterrâneo para a Palestina, rogavam a intercessão de Nossa Senhora dos Navegantes, visando vencer a jornada que os levaria na busca de protegerem os lugares sagrados dos infiéis. Essa forma de adoração à Nossa Senhora rendia a ela ainda outras denominações: Estrela do Mar – protege os navegantes e mostra o melhor caminho e um porto seguro para a chegada, N. Sra. dos Mares e N. Sra da Boa Viagem. Assim, aqueles guerreiros, antes de iniciarem a navegação, participavam da Santa Missa, rogando também por mais coragem de enfrentar o mar e suas tempestades, nos pequenos barcos. Com o advento das grandes navegações, os ibéricos difundiram ainda mais a devoção à Senhora dos Navegantes, Estrela do Mar, N. Sra. da Praia. Invocações eram gravadas nos cascos dos barcos e, a maioria deles, traziam uma imagem de N. Sra dos Navegantes entalhada na proa, onde uma lâmpada de fogo era mantida acesa pelos marujos. “A minha caravela? Ela balança mas não para.” (Luís de Camões) Com os colonizadores portugueses, desembarcou a devoção à N. Sra. dosNavegantes no Brasil. Pescadores simples e valentes, sempre faziam as orações a N. Sra. dos Navegantes antes de irem para o mar em busca de sustento para a família e trabalho para viverem. O litoral brasileiro foi sendo cravejado de Igrejas e Capelas dedicadas à N. Sra. dos Navegantes. Esse mar é liberdade, pois como dizia Baudelaire: “Homem livre, tu sempre gostarás do mar.”E é livre para as religiões. Pois esse imenso mar também é a calunga grande. No mar se produziram todas as primitivas formas de vida do planeta. E nele reina a Grande Mãe Iemanjá, aquela que rege todos os começos. “Ela mora no mar, ela brinca na areia. No balanço das ondas, a paz ela semeia.” (Marisa Monte) O oceano de grande mistério possui profundos e desconhecidos abismos, onde residem almas delinquentes prisioneiras, esperando regeneração. Os pretos velhos consideram que o mar é a calunga grande pelo grande número de mortes que ocorreram, nos navios negreiros, nas lutas contra os piratas, nos combates no mar que levaram a tantos naufrágios,… O fundo do mar, então, é coalhado de histórias de pessoas que ali desencarnaram. Por tudo isso, em auxílio à Grande Mãe, e também Senhora das Cabeças, atuam ali os marinheiros, as caboclas do mar, e na praia os pretos velhos, ciganos, exus e pomba giras. A Iemanjá (Janaína ou Inaê) podemos pedir ajuda para solução de problemas que necessitem de urgente retorno, como a cura para as doenças. “Eu quero ser o primeiro/A saudar Yemanjá/Escrevi um bilhete pra ela/Pedindo para ela me ajudar” (Dorival Caymmi) E 2022 é o ano de Iemanjá. Fevereiro é tempo delas, seja Nossa Senhora dos Navegantes seja Iemanjá, senhoras da maternidade, da abundância e da generosidade. Independente de sua crença, Senhoras das águas salgadas, nos protegei ao navegarmos pelo mar da vida, onde há beleza e, também, perigos!
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Fernando Pessoa, Luís de Camões, Charles Baudelaire, Marisa Monte, Dorival Caymmi