“A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.” (Rubem Alves)
Por tantas vezes ouvi dizer que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Dizem que ela expressa uma sensibilidade típica de portugueses e brasileiros. Ela representaria um sentimento de nostalgia causado pela ausência de algo, de alguém, de um lugar ou pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados. Realmente, trata-se de uma palavra que só pode existir a partir um povo que canta fados. Nenhum ritmo musical consegue traduzir tão bem as emoções de um povo, sua saudade e o cotidiano dos menos favorecidos, de forma submersa em melancolia. E como tudo, a saudade não é maniqueísta; ela não é boa nem má. Tudo depende do que você faz da sua saudade; como a usa no encaminhamento da sua vida. “Pode-se ter saudades dos tempos bons, mas não se deve fugir ao presente.” (Michel de Montaigne) Os excessos são sempre ruins como ensinaram Aristóteles, São Bento, Santo Agostinho e leciona Anselm Grün. Ser um saudosista ou ser indiferente são extremos negativos. A saudade move as composições musicais e os poemas, mas também paralisa muitas vidas. Como disse Mário Quintana “a saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”. Mas a saudade acaba por ser o excesso dos sentimentos. Por isso, constantemente ouvimos a expressão “morrer de saudades”. Aliás, no passado só se falava no plural (saudades) e não saudade. O luto, o amor, a amizade, o desejo, … fazem as pessoas morrerem de saudade, ainda que, na vida real, elas não morram de saudades. Tenho minhas saudades? Sim, as tenho. Mas tento dar um foco diferente, não melancólico. Sinto saudades das viagens de mochileiro, mas foco na beleza e peculiaridades dessas viagens, pois como dizia Baudelaire: “Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno.”. Sinto saudades dos meus avós, tios-avós, …, mas ela serve para lembrar narrativas, festas, características pessoais, que me fazem rir sozinho. Sinto, principalmente, saudades de meu pai, que partiu tão cedo. Hoje tenho quase dez anos a mais do que ele quando de sua passagem. Mas a saudade dele me acalma, pois lembro do seu sorriso, da confiança depositada em mim nas suas últimas palavras, na sua certeza de que eu trilharia um caminho digno. Assim, minhas saudades não são melancolia, mas o rememorar de momentos bons de anos onde ocorreram coisas boas e coisas ruins. Minha vida é o ontem, o hoje e o amanhã, cada um no seu papel. E afinal “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente…” (Mario Quintana). Mas tenho uma saudade que não é nostálgica. Ela é sempre presente: a saudade dos amigos. Três dias fazem dessa ausência uma eternidade. Por isso, diariamente, mando bom-dia (quando a coisa enrola vai um “boa tarde” ou um “boa noite”). E aqui, a saudade é preocupação, os quero bem e que saibam que estou pronto se precisarem de mim. “Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.” (Amyr Klink) Tento não ser tão viral ou intenso quanto Clarice Lispector: “Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.” A saudade é tão importante que até ganhou dia no calendário, então precisamos entendê-la e lidar com ela, pois dela nunca fugiremos. E quando a saudade é mais forte? E quando a melancolia faz com que o peito não comporte o coração? Quando a razão estiver inalcançável pelo sentimento? Segue o poeta! “Saudade é um sentimento que, quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.” (Bob Marley) Chorar também pode ser remédio.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Rubem Alves, Michel de Montaigne, Aristóteles, São Bento, Santo Agostinho, Anselm Grün, Mário Quintana, Charles Baudelaire, Amyr Klink, Clarice Lispector, Bob Marley
FERNANDO Consegue em seu texto trazer a saudade de forma doce e necessária.
Parabéns
Obrigado, Waldir por suas gentis palavras! A ideia é essa mesma… A saudade não precisa ser, necessariamente, angustiante.