“Não há nada de errado em celebrar uma vida simples.” (J.R.R. Tolkien)
Pode até parecer uma questão sem razão, mas há que se ter atenção. A língua portuguesa costuma ser uma armadilha e acabamos por usar palavras como sinônimos quando não o são. Existe uma diferença entre comemorar e festejar, e no uso de um bom professor, me valho de Mario Sergio Cortella: “A palavra comemorar remete quase sempre ao verbo festejar; entretanto, comemorar significa memorar com outros, ou, em outras palavras, lembrar junto, o que não implica em ser, com exclusividade, uma recordação festiva.” Por isso se comemoram certos dias que são tristes em sua essência. A ideia é que se recorde um fato, que deve ser mantido na memória conjunta por seu significado. Mas acabamos por chamar de comemoração o festejo daquilo que em tese nos faz felizes ou tende a nos fazer felizes. O próprio Machado de Assis vai nesse sentido e lembra que “o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso”. Celebrar é tão importante quanto comemorar. Afinal, como diz Oprah Winfrey: “Quanto mais você glorifica e celebra sua vida, mais você tem na vida para celebrar.”. E aí voltamos a um ponto central, que envolve a essência da celebração. As pessoas tendem a achar que só se celebram os grandes feitos ou acontecimentos especiais. Eis aí um grave erro, pois a vida é feita muito mais de momentos comuns e pequenas vitórias no dia a dia. Portanto, celebrar a vida deve ser celebrar principalmente essas situações mais constantes da vida. “Lamentamos aquilo que perdemos, mas precisamos celebrar aquilo que tivemos” (C.J. Wells) Em um segundo ponto, as pessoas passaram a acreditar que só se celebra com uma quantidade enorme de pessoas. Triste engano. Você celebra com a pessoa amada um fato do dia, ou com a família um acontecimento, ou com amigos uma determinada situação, … Será que você celebra algo de verdade com 500, 1000 ou 1500 pessoas? Quantas delas você conhece de verdade? Quantas delas têm intimidade com você para entender a importância do que se celebra? Hoje, vejo nitidamente que alguns festejos têm fins distintos de uma efetiva celebração, mas justificam a obtenção de presentes, a demonstração de uma condição econômica – às vezes irreal, uma suposta e efêmera popularidade, a possibilidade de “networks” profissionais, … Pessoalmente, já fui convidado a festas, das quais declinei, pois nitidamente não havia nenhuma razão de minha participação em tal “comemoração”. Por outras vezes, declinei, pois sabia que havia motivos pouco justificáveis, assim como os fins pretendidos, com o convite. Nesta época de fim de ano, principalmente com a falsa crença de fim de pandemia, não faltam convites de eventos e festas. São elas comemorações ou celebrações? Em qualquer hipótese há cabimento na sua participação? Tais perguntas são importantes, pois, canso de ver pessoas que aceitam os convites e participam, para depois reclamarem do evento. Portanto, responda aquelas perguntas para poupar a si e ao ouvido dos outros. Comemorar e celebrar são ações importantes, mas tem que ter motivação, razão. Preferencialmente, devem também ter um fim. A razão e o fim serão em conjunto a essência da comemoração e da celebração. Então, celebre e comemore, mas com essência, sendo parte real do evento. Não seja só um número, pois você é um indivíduo dotado de personalidade. “O lugar que ocupamos é menos importante do que aquele para o qual nos dirigimos.” (Leon Tolstói)