“A vida é a soma das suas escolhas.” (Albert Camus)
Comumente, ouvimos que a definição de vida é existência. Mas na verdade, como dito por Augusto Branco, “tua vida é resultado de tuas escolhas”. Muitas vezes, ouvimos pessoas justificarem suas trajetórias existenciais como uma consequência do destino. Os existencialistas diziam que a essência vem antes mesmo da existência. Todavia, Pedro Bial, reportando-se ao filme Crimes e Pecados, onde um personagem interpretado por Woody Allen afirma que “somos a soma de nossas decisões”, diz que “a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso”. Em igual sentido fala Richard Bach: “Traçamos nossas vidas pelo poder de nossas escolhas. … Geramos nossos próprios meios. Obtemos exatamente aquilo pelo que lutamos. Somos responsáveis pela vida que nós próprios criamos. Quem terá a culpa, a quem cabe o louvor, senão a nós mesmos?”. Uma decisão é sempre uma escolha; uma escolha dentre alternativas que nos encaram. Ao escolher uma alternativa você cria um caminho de consequências, estando perdidas as demais alternativas não escolhidas. “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.” (Pablo Neruda) Consequentemente, qualquer escolha exige ponderação, conhecimento, avaliação, … Quando você escolhe sem tais fundamentos, você viverá a incerteza da escolha e tenderá a sofrer se não for bem-sucedido, gerando, normalmente, um arrependimento. Fernando Sabino foge do termo arrependimento e diz que “o diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”. Escolher é abrir mão ou renunciar às alternativas que você não escolheu. Consequentemente são alternativas perdidas. Exige-se uma maturidade e uma capacidade cognitiva para tomar decisões, o que explica que a lei definirá que algumas pessoas são capazes e outras incapazes (parcial ou totalmente). Sartre fala na responsabilidade do homem que na sua existência faz suas escolhas e determina seu destino. Gosto da lição de Augusto Cury: “uma pessoa imatura pensa que todas as suas escolhas geram ganhos. Uma pessoa madura sabe que todas as escolhas têm perdas.”. Mas a imaturidade também está em quem opta por não escolher, caindo na omissão ou na inércia. E muitas vezes a justificativa é a falta de alternativa, que é uma falácia. Pode haver apenas duas alternativas, e você tem como escolher. Não agir ou se omitir são alternativas escolhidas – decisões. “As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões.” (Lya Luft) Assim, se a vida é escolher, a vida exige estratégia que indicará o agir (tática), ou não. “… mas o que não é possível é não escolher. Eu sempre posso escolher, mas tenho que saber que se não escolho, isto também é uma escolha.” (Sartre) As consequências das decisões são outras alternativas que exigirão novas escolhas com o advento de mais consequências. Ou seja, a vida é um processo cíclico de escolhas para escolhas. Sabiamente, Eleonor Roosevelt diz que “a filosofia de uma pessoa não é melhor expressa em palavras; ela é expressa pelas escolhas que a pessoa faz. A longo prazo, moldamos nossas vidas e moldamos a nós mesmos”. Mas nada é eterno; rever, mudar, readequar é sempre possível. Há uma passagem de Leibiniz, em que ele diz: “Depois de ter estabelecido estas coisas, eu pensava entrar no porto, mas quando me pus a meditar sobre a união da alma e do corpo, fui como que lançado de volta ao alto mar.”. E sobre ela Gilles Deleuze diz: “É justamente o que dá aos pensadores uma coerência superior, essa faculdade de partir a linha, de mudar a orientação, de se reencontrar em alto mar, portanto, de descobrir, de inventar.”. Portanto, o somatório dessas escolhas sucessivas e subsequentes que você fez determinará o que é sua vida. E como você tem a possibilidade de escolher, você tem a opção de mudar. Quanto mais livre mais mutável, pois, mais aberto a escolhas sem culpas, sem medos, sem angústias. “Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.” (C. S. Lewis) E se eu não tiver êxito na minha escolha? O que fazer? Analise o cenário, veja as alternativas e faça novas escolhas: faça algo para mudar, se quiser, ou nada faça, aceitando o que se tem. Lembre das palavras de Shakespeare: “Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.”. A vida boa são as boas escolhas e as novas escolhas para mudar no sentido de algo melhor.
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Albert Camus, Augusto Branco, Pedro Bial, Richard Bach, Pablo Neruda, Fernando Sabino, Augusto Cury, Lya Luft, Eleonor Roosevelt, C. S. Lewis, William Shakespeare, Sartre, Leibniz, Gilles Deleuze
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