“Para quem tem fé, a vida nunca tem fim.” (O Rappa)
Eu sou uma pessoa de fé e, com base nela, vivo minha vida. Segundo Sêneca “Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela.”. Ouso discordar. Não gosto de pensar na morte e tenho medo dela também. Sim, eu tenho medo de morrer e, com a mesma intensidade, tenho medo da perda de pessoas queridas e próximas. Como toda mãe, meu maior medo é ter que enterrar um filho (que Deus me livre disso). Essa é a maior subversão das leis da vida. Não posso imaginar o tamanho desta dor. Aliás, a dor da morte é de quem fica. E eu sei bem disso. Todo mundo lida com isso – cada qual ao seu jeito; uns mais cedo e outros (mais afortunados), bem mais tarde. E o que dizer destes malditos tempos de pandemia do Coronavírus… Todos perdemos alguém ou “alguéns” e o mundo perdeu muita gente. Triste demais. Mas hoje, em especial, a partir do convite que recebi para escrever sobre a morte, resolvi compartilhar uma das minhas experiências, até então, mais sofridas. E essa história começa com uma premissa que, tenho certeza, nem todos concordam… Mas, como dizem por aí, toda unanimidade é burra, então, sigo firme com minhas convicções. Pois bem, eu acredito que, para cada um de nós, existe alguém por aí, destinado a você. E isso não quer dizer que, necessariamente, você vai encontrá-lo. Eu encontrei a minha pessoa e com ela vivi o grande amor da minha vida. Casei e tive dois filhos maravilhosos, frutos deste amor. Mas ele se foi cedo, antes de completar quarenta anos, deixando uma saudade profunda e os filhos, órfãos, ainda bem pequenos. Quanta dor! A morte, quando repentina e inesperada, é ainda mais difícil de aceitar e lidar com ela. E eu tive que enfrentá-la de três formas bem distintas: os meus sentimentos, os do meu filho mais velho, na época com nove anos e o mais novo, com cinco anos. Emoções e compreensão completamente diferentes… mas unidos por um sentimento único de amor e tristeza. Passados mais de vinte anos, a dor deu lugar à saudade (tão difícil quanto). As lembranças são mantidas vivas em nossos cotidianos, fotos e alguns objetos especiais… Isso nos uniu ainda mais – mãe e filhos. Mas o sentimento para cada um de nós é bem diferente. Dois meninos cresceram sem o pai, mas envoltos numa onda de amor, proteção e carinho sem fim. Avós, tios, primos, amigos. Uma corrente invisível. Sou eternamente grata a todos e a cada um deles. Não teria conseguido sem esse amor todo que nos envolveu. E, voltando à minha crença de predestinação, segui em frente, como não poderia deixar de ser. Mas o amor que vivemos e sentimos permanece até hoje em mim. Namorei, mas não casei novamente. Tampouco tive outros filhos. A saudade ainda bate. O amor permanece. Um vazio nunca preenchido. Secretamente, acredito que ainda nos encontraremos. Quem sabe? E quando estou triste, por ele, ou mesmo por outras pessoas queridas que perdi (e que não são poucas), penso na oração de Santo Agostinho – A morte não é nada – que termina do seguinte modo: “Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho… Você que aí ficou, siga em frente… A vida continua, linda e bela como sempre foi.”. E é exatamente o que faço, valorizando a vida a cada dia!