PLANTAS E EXISTÊNCIAS
“Segue o teu destino… /Rega as tuas plantas;/Ama as tuas rosas.” (Fernando Pessoa)
Muito cedo, eu entendi que vivia o verde. O quintal das casas se estendia aos morros cobertos de vegetação – verdes e salpicados de diferentes cores conforme as flores da estação (quaresmeiras, manacás da serra, bromélias, …). Esses eram nossos parques de diversões, onde: construíamos nossas cabanas, inventávamos histórias, dando nomes a áreas específicas; colhíamos frutas silvestres (abil, pitanga, grumixama, araçá); buscávamos taquaras, para confecção de pipas e papagaios; … Lembro do som dos bambus-gigantes ao vento, o voar dos morcegos nas minas d’água, o piar das corujas, e, também, os esquilos e micos vindo roubar frutas ou comendo “coquinhos” nos palmiteiros. Com os avanços da cidade e da idade, o quintal se reduziu, mas sempre estiveram presentes as árvores, plantas, flores, frutas, pássaros e cães. Quando mudei para outra cidade, e já não era mais uma casa, o apartamento escolhido o foi em razão da varanda, que poderia permitir um mínimo de quintal. Fui logo trazendo plantas e rejeitando as sugestões de fechamento com vidros. Hoje é meu lugar de leitura e refeições entre orquídeas, palmeirinhas, coqueirinhos, mini-rosas, lilases, … Dali olho o horizonte sobre o mar, o maciço da Tijuca e a Pedra da Gávea. Minha mãe diz que em breve não caberão mais pessoas na varanda de tantas plantas, e minha amiga Renata diz que qualquer dia se verá Tarzan em um cipó alí naquele espaço. Excesso!!! Mas eu necessito dessas plantas, desse contato com a terra, tanto quanto necessito dos livros nos quais, entre elas, mergulho. Isso está contido em Fernando. Às vezes, basta estar ali com uma taça de vinho e filosofar sobre minha existência. E como a filosofia me aponta o “justo meio”, preciso agora dar uma ajustada, pois duas mangueiras e um pé de cajá-manga são desmedidos naquele espaço. Mas não sou o único louco das plantas. Tem o Waldir… Este aqui nasceu respirando o verde, sentindo o perfume e admirando as cores das plantas que em abundância existem nas cidadezinhas do interior. E no meu ser interior, a alma é um resumo destas cores, destes perfumes. Lembro que, quando jovem, ficava triste quando as meninas brincavam de despetalar as indefesas margaridas, dizendo “- Bem me quer! Mal me quer!”; e pensava eu o quanto estas eram más com as lindas flores. Minha mãe, apaixonada por samambaias, me fez tutor destas, as quais eu tinha que regar, podar, cuidar com muito carinho. E eu, adolescente, me encantava ainda mais em poder ser responsável por elas. Cresci um homem que olha as plantas com respeito, com admiração. Talvez a mesma admiração que fez Vincent Van Gogh pintar girassóis, amendoeiras e outras; o mestre considerado expoente do pós-impressionismo e que ofereceu os sinais do que viria a ser, o expressionismo. Em sua conturbada existência, sentiu sua alma nestas flores. E, realmente, assim as vejo, telas pintadas pelo criador com suas cores e formas únicas. Mas há outros e outras apaixonados, e assim estou curioso pela visão de Márcia… Então, a pedido do meu querido amigo, aqui estou para contar um pouco desta minha paixão: as plantas! Minha maior referência vem da infância, na casa da minha vó Dulce. Muitas flores, plantas e árvores frutíferas, mas, sua maior paixão eram as samambaias… Cada uma mais linda e frondosa que a outra, desde as choronas até os rendões portugueses. A varanda do meu apartamento foi, por deliciosos 15 anos, o quintal da minha pet, uma labradora caramelo muito sapeca, a minha Mequinha. E como ela destruía tudo, inclusive sofás, as plantas se resumiam a singelos vasinhos a decorar a casa. O tempo passou, minha Mequinha partiu, já idosa (quanta saudade…), e os espaços foram, aos poucos, sendo preenchidos por plantas, muitas e variadas plantas e flores. Algumas compradas, outras presenteadas, além de mudinhas plantadas por amigos que compartilham desta paixão. Aqui em casa moramos eu e meu filho caçula, o Douglas, que carinhosamente me chama da maluca das plantinhas, só porque eu converso e cuido delas com o mesmo amor que dediquei à minha cachorra. Nem ligo… Acho graça, até porque, trata-se de uma brincadeira, sem nenhuma intenção de ofensa ou crítica. E sempre que chego em casa, com mais uma espécie, ele diz que estamos sendo dominados pelo verde. Adoro! O ar que respiramos fica mais agradável, a casa fica mais colorida. Quanto às samambaias da minha querida vozinha, confesso ainda ter uma certa dificuldade em cuidar delas, mas eu chego lá! E agora, passo a bola para o meu querido amigo Leonardo, outro amante da natureza e do verde! … Desafio aceito, como não! Amo o verde e as plantinhas. Por ser Biólogo, e agora Terapeuta Natural, as pessoas sempre me perguntam: Que planta é essa? Essa planta serve para que? Lembrando que não sou Botânico, digo que não sei, mas vou atrás de informação para saber. Sempre fico maravilhado com o poder que certas plantas têm e como elas podem ser terapêuticas. Os cuidados que elas precisam são básicos, mas mudam a nossa rotina. Dou bom dia para as minhas todos os dias e as vejo florescer como resposta. Vibro a cada flor que abre. Morei mais em casa do que em apartamento, então minha vida foi plantar, regar e colher. Isso me ensinou a ter paciência nas tribulações do dia a dia. Subir em árvore para pegar fruta era um esporte na minha infância. Tinha dia que meu almoço era manga, e só isso. E quantas vezes cheguei em casa com a roupa toda roxa de Jamelão. Hoje, voltando a morar com a minha mãe, estou repovoando o quintal e me tornando, mais um, maluco das mudinhas. Não posso ver uma planta que não tenha e nem comer algo que tenha semente que já faço um vasinho para ela. Às vezes me perco até no que tem no vaso sem saber o que plantei ali. Meu padrasto sempre se pergunta onde é que eu vou plantar tanto pé de tangerina, mamão e laranja. Digo para ele não se preocupar porque tem sempre alguém querendo uma mudinha.
Autores: Fernando Sá, Waldir José Machado, Marcia Siqueira e Leonardo Campos
Autor citado: Fernando Pessoa
Foto: pixabay.comnonmisvegliate