Estou ampliando e reformando a casa da minha mãe, depois que voltei a morar com ela, sem entender nada desse universo de obra. Nesses dias, comprei a porta para o meu quarto. Para economizar cheguei na loja e pedi uma porta de 80 centímetros sendo a mais barata (para que eu fiz isso?). Quando o pedreiro chegou, olhou meio torto na direção dela e falou: – Essa porta tem que lixar e envernizar antes de colocar no lugar. Para meu desespero! Mas não sou de dar o braço a torcer. Comprei a lixa, o verniz, o rolo de pintura e falei para mim mesmo: – Você consegue! Domingo de manhã, com um céu maravilhoso, coloquei minha playlist favorita, uma máscara, que não falta aqui em casa depois da pandemia, um óculos de obra transparente e mandei ver a lixa na porta. Máscara e óculos, você que usa, sabe que combinação perfeita é. Descobri que a madeira do compensado era cheia de farpas. Conclusão? Me furei todo, mas tudo bem. Enquanto eu lixava, no terraço do terceiro andar, o vento, naquele dia, levava a poeira que se formava para todo lugar, e TODOS os orifícios, ainda bem que eu estava protegido. Quando acabei essa etapa parti para a hora de envernizar; sem luvas. NUNCA tinha feito isso antes. Aquele negócio no início é líquido mas com o tempo, e o vento que estava, foi secando rápido. Quando terminei um lado e virei a porta percebi que a lata que eu comprei era pequena demais para uma porta virgem que “chupava” todo o verniz do rolo de pintura com uma sede incontrolável. Achando que ia resolver, comecei a passar o rolo mais rápido e o apertando contra a porta para ver se eu conseguia espremer todo o verniz dali. Só que o resultado foi que eu fiquei todo respingado e a porta cheia de fiapo do rolo de pintura que começou a se desfazer. Com o desespero a mil, e todo colando, consegui esvaziar a lata de verniz e deixar a porta pronta. No ato de sentar para relaxar, o vento quase derrubou a porta em uma rajada. Então para secá-la, tive que deitá-la ainda úmida, e sem luvas lembre-se. Aí então, desmontei no chão. Quinze minutos depois percebi que tinha que lavar os respingos do verniz do corpo e da mão. Já era tarde! A escovinha do tanque virou minha bucha no banho com direito a sabão de coco e tudo mais. Passado todo esse contratempo, chegou a hora de colocar a porta no lugar. Os 80 centímetros que eu comprei chegaram 81. E como fazer para encaixá-la no caixonete? O pedreiro me olhou de lado novamente e eu só pude rir. Conseguimos cortá-la e tudo no final das contas se resolveu. Poderia ter sido uma porta cara, perfeita. Mas que graça teria e que lições ela poderia ter me passado? Acho que nenhuma. Por isso estou olhando para minha porta, lixada e envernizada por mim, e agradecendo por ela estar ali. Todo esforço valeu a pena.