PRIVACIDADE. MEU DIREITO.
“Vivemos, de fato, em um mundo carente de solidão, silêncio e privacidade, e, portanto, carente de meditação e amizade verdadeira.” (C. S. Lewis)
Apesar de meu bom humor e constante riso, talvez a sisudez costumeira das fotos dê um sinal de quanto primo por minha privacidade. Um bom amigo, sempre que recebia uma pergunta impertinente, respondia: “- Eu até posso lhe dar tal informação, mas antes me diga que utilidade dará a ela.”. Perfeito! Evito saber da vida dos outros, pois não desejo que saibam da minha vida. Tenho algo para esconder? Não! Mas gosto de me dividir somente com quem eu acho que deva. Mesmo quando se trata de amigos, os laços de amizade são distintos uns dos outros. Portanto, nem todo e qualquer assunto é tratado igualmente com todos os amigos. Acho que sou meio isolado – do tipo Greta Garbo, e, talvez por isso, goste do comentário dela no sentido de que “há muitas coisas em seu coração que você nunca deve contar a ninguém. Seria baratear o seu íntimo sair espalhando-as por aí.”. Da mesma forma, não olho para a casa do meu vizinho, pois isso, em tese, não lhe daria o direito de especular sobre minha casa. Também, se o vizinho olhar, azar o dele, cansará de me ver pelado. Sou educado e urbano, nunca deixo de falar bom dia, boa tarde, agradecer, … Mas não frequento casa de vizinho, não largo porta escancarada, não crio grupinho de piscina, sauna ou churrasqueira. Canso de ver “barracos” no condomínio, pois o excesso de intimidade acaba gerando perda de limites. Acredito na boa convivência, na gentileza, mas, sobretudo, no respeito. Lincoln dizia que “o auto-respeito é a raiz da disciplina; a noção de dignidade cresce com a habilidade de dizer não a si mesmo”. Uma amiga brinca que sou o rei do supermercado que frequento, pois conheço a todos e todos me conhecem. Mas, meu “sucesso” deriva do fato, tão somente, de ser gentil e educado, o que não significa que dê espaço para invasões à minha privacidade. Uma vez, em uma loja de um shopping de classe média alta do Rio de Janeiro, ao fazer minha ficha de cliente fiel, e diante do meu número de telefone celular (consta uma sequência longa do mesmo número), o vendedor fez um comentário de que poderia ser útil como telefone de prostituta. A minha cara foi tão comunicativa, que o gerente solicitou que o vendedor fosse ao estoque e finalizou a minha compra. Me assusta como as pessoas são invasivas e também permitem invasões. Quando meus amigos contam algo, me permito saber somente o que eles desejaram que eu soubesse sem perguntas invasivas de minha parte. Tenho esse comportamento respeitoso e espero o mesmo. Acho que essa característica gera minha completa repugnância por programas do tipo BBB, Fazenda, … Nunca consegui assistir um único episódio inteiro, ou sequer acompanhar. Nada contra quem o faz, mas não é minha praia. Da mesma forma, as redes sociais são lugares de posicionamentos de apoio, ou não, a comportamentos políticos, espaços para trazer reflexões, oportunidades de dar dicas de cultura, onde indicar serviços e produtos, mas não servem como palco para exposição da minha vida e quebra da minha privacidade. “Intimidade publicada em rede social não é intimidade, é publicidade.” (Augusto Branco) Sou normal! Às vezes estou feliz, por outras triste. Tenho minha ansiedade e agonias, meus amores e decepções, …, mas não como elementos para buscar atenção de não sei quantas pessoas que não primam pela minha intimidade. Acho menos grave mandar nudes do que expor meu guarda-roupas. Tem coisa pior! E o pior ocorre quando pessoas conhecidas criam personagens, cujas “estórias” são sabidamente falsas ou enganadoras, gerando um constrangimento insuportável a quem o sabe. Já disseram que sou muito fechado. E sou mesmo, independentemente de ser comunicativo. Me dou o direito de privacidade mesmo no âmbito familiar. Lembro de Nietzsche (“Em homens duros a intimidade é questão de pudor – e algo de precioso.”). Pois é, se eu não lhe disse algo a meu respeito é porque entendo que você não necessita sabê-lo. O mais grave é que algumas pessoas, mesmo assim, tentam saber (descobrir) através de terceiros. Deplorável, não? Eu não disputo número de propriedades, classes de carro, e muito menos estou na gincana dos restaurantes e lugares badalados em quantidade de frequência ou “likes”. Saibam que o que tenho é pelo prazer ou vantagem que aufiro, e onde vou é porque me é prazeroso. Nada do meu ter, ser ou estar envolve competição. Da mesma forma não escolho para convívio as pessoas senão por caráter, pouco me importando títulos, condição econômica ou popularidade. Aliás, percebo em conversas banais que não conheço a maioria dos “famosos” atuais. Estou fora desse comportamento pequeno e inferior da vida midiática. Meu papel na vida é aprender, dividir e ajudar pelo simples prazer de fazê-lo por convicção e não por exposição. Nas palavras de Victor Hugo, “as pessoas não carecem de força, carecem de determinação”. Precisamos de menos imagens e palavras, que deveriam ser substituídas por ações voluntárias e desprendidas. Meu caminho é longo, há muito aprendizado por vir, e vai comigo quem pensa assim. A quem quer competir ou auferir vantagem injustificada, a quem não agrega, eu digo adeus. Minha privacidade e minha intimidade divido somente com quem merece. “Você tem que acordar cada manhã com determinação se você pretende ir para a cama com satisfação.” (George Lorimer)
Autor: Fernando Sá
Autores citados: C. S. Lewis, Greta Garbo, Abraham Lincoln, Augusto Branco, Nietzsche, Victor Hugo, George Lorimer
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