“A arrogância é a assinatura do mal” (Mauricio Martins)
Em um dos meus textos eu já falei sobre a importância que o bom humor tem na forma como vejo uma pessoa. Para mim, ele é a qualidade definitiva…a que não pode faltar em ninguém. Que fique claro que isso não significa que todos precisam fazer piada todo o tempo, infantilizando as relações, mas que devem, por vezes, trazer o lúdico para uma conversa ou situação, até usando o sarcasmo inteligente, desta forma desanuviando o ambiente. Um leitor desse antigo texto me indagou sobre qual seria a característica negativa que mais me assustava. Ao contrário do que possam pensar, a resposta já estava pronta em minha mente: a arrogância. “Mas por que?”, podem me perguntar alguns. Bem, acho que aqui vale lembrar a fábula dos dois lobos. Para os que não conhecem, os índios Cherokees têm uma lenda na qual um ancião e um jovem discutem sobre o bem e o mal. O velho índio lhe diz que temos o bem e o mal dentro de nós, em constante luta, como dois lobos. Ao final da narrativa o jovem índio pergunta quem vencerá a contenda, ao que o ancião responde “aquele que você alimenta”. Sendo assim, sabendo que temos o bem e o mal dentro de nós, digo a você, meu querido leitor, que a arrogância é uma das formas de alimentar o mal dentro de nós. Ela é o oposto da humildade, pois traz em si a noção de que tenho todas as verdades, e que tudo posso. Estejam atentos porque, quando a confiança se degenera de forma exacerbada e desrespeitosa, temos a mesma transmutada em arrogância. Pense nisso: não há como alguém de boa índole ser arrogante. E aí minha mente busca logo um antídoto para evitar esse caminho, indo parar na terra do sol nascente. Os japoneses têm uma forma bastante interessante de moldar seu comportamento e que repele tal sentimento. Para isso, dizem eles, é preciso achar o seu Ikigai. De uma forma bastante simplificada, deixar seu Ikigai aflorar significa encontrar o seu real propósito. A razão pela qual vale a pena viver. É bastante razoável que esse encontro, levado ao limite, reflita na busca da excelência. O Ikigai, para eles, pode ser encontrado em um lutador de sumô, na realização da cerimônia do chá, na participação em um corpo de balé ou no cultivo de orquídeas… Na verdade, ter Ikigai é compatível com qualquer atividade humana, desde que você consiga construir seus cinco pilares: “Começar pequeno”, “Libertar-se”, “Harmonia e Sustentabilidade”, “A alegria das pequenas coisas” e “Estar no aqui e agora”. Para um maior conhecimento do conceito, recomendo o livro “Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz”, de Ken Mogi. Destaco, no entanto, que “Começar pequeno” indica que é preciso começar qualquer carreira respeitando todo o seu ciclo de aprendizado, sem pular etapas. Já o “Libertar-se” é conseguir se dissociar do ego e se manter em uma distância segura dos julgamentos de terceiros, usando os mesmos apenas como feedback, mas não como fonte de sofrimento. A “Harmonia e Sustentabilidade” visa trazer uma ideia de inserção da sua atuação sem que a mesma perturbe o seu entorno, ao mesmo tempo em que busca lembrar o quanto devemos mirar uma atuação que se prolongue no tempo, o que enseja a sua sustentabilidade. A “Alegria das pequenas coisas” é exatamente o que se lê, ou seja, entender que, em uma atividade, as pequenas vitórias precisam ser apreciadas da mesma forma que as grandes realizações. Por fim, “Estar no aqui e agora”, traz também uma interface com o Budismo, que prega a ideia de que o passado se foi, o futuro ainda não existe, e o que realmente importa é o aqui e agora, destacando que a falta de cuidado com o presente inviabiliza o futuro e inutiliza o aprendizado do passado. Do ponto de vista ocidental, seria o famoso “dar foco”. Ao buscar o seu Ikigai, automaticamente deixaremos de lado o risco de sermos arrogantes, atingindo a harmonia e a sustentabilidade das relações.