“A prudência é a filha mais velha da sabedoria.” (Victor Hugo)
Nesses dias de pandemia, onde vemos tantas pessoas agindo despreocupadamente, enquanto um vírus e suas variantes dizimam os humanos, me veio a pergunta que intitula este texto. Por quê? Pois prudência é característica de quem se comporta de maneira a evitar perigos ou consequências ruins. Talvez você a conheça por outro nome (circunspecção, ponderação, precaução, anteparo, atenção, cautela, cuidado, tento, sensatez), mas, decerto, ela deveria ser sua melhor companheira. Não por outra razão, Baltasar Gracián y Morales ensinava que: “Só as pessoas inteligentes procuram, para auxiliá-las, pessoas mais inteligentes que elas.”. Em outras palavras, era esse o conselho de Steve Jobs sobre os assessores e conselheiros que contratava, no intuito de ter prudência na condução de seu negócio. Ele aprendeu isso na marra! “Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente.” (Píndaro) Mas, a prudência não é assunto novo. Ela era uma Arte para os filósofos clássicos e uma Virtude para a teologia cristã. A Virtude da Prudência foi principalmente enumerada pelos teólogos Patrísticos, sendo especialmente ressaltada na Bíblia quando se fala em julgamentos – seja no julgamento da adúltera (Jo 8: 1 -11) ou do próprio Cristo (Mt 27: 17-29). Aliás, as multidões e turbas nunca foram dadas à prudência. São Gregório de Nissa – padre capadócio que bem definiu o sentido de virtude (“Uma disposição habitual e firme para fazer o bem.”), elencava a Virtude da Prudência como uma das Virtudes Humanas ou Virtudes Cardinais, ou seja, valores a guiar a condução humana, adjetivando as condutas, impedindo o excesso, reforçando o caráter e corrigindo os vícios humanos. Tudo parece bem adequado aos aglomeradores dos tempos de pandemia. Juliano Enamoto caminha bem ao afirmar que “a Virtude da Prudência, opera pela abstenção de ação, conduta ou modo de agir, um verdadeiro “freio moral” da conduta humana em razão da reflexão e talvez epifania moral que revela a perversidade da conduta cogitada”. Hoje vemos, pela falta de prudência, o surgimento do termo pandemicismo (mortes causadas em uma pandemia por sua má condução por quem tinha o dever de fazê-lo). Os filósofos clássicos viam a prudência como uma Arte, que deve ser desenvolvida pelo indivíduo e que não necessariamente se adquire pelo envelhecer. “Deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são provas de idade e não de prudência.” (Platão) Estranho como o homem, sendo um ser tão perene, consegue abstrair a prudência do seu viver, se expondo a tantos riscos e prejuízos, afinal, nas palavras de Cícero, “prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar”. Viver sem risco é a possibilidade de viver melhor, de ser mais feliz. “Quem faz o homem feliz não é o dinheiro: é a retidão e a prudência.” (Demócrito). Com o que nos deparamos hoje? São pessoas que não adotam condutas precavidas (isolamento social); não buscam o olhar mais inteligente (ciência); não têm a sensatez de proteger os seus (parentes e amigos), sendo agentes de infecção, e, ainda, que dizem e replicam mentiras e sandices (“fake news”). Aqui não posso deixar de lembrar outra frase de Baltasar Gracián y Morales: “O silêncio é o santuário da prudência.”. Parece já não faltar somente o bom senso, mas também a prudência, seja como Arte ou seja como Virtude. Enquanto isso, vemos o individual e o coletivo em risco, vislumbramos tanta dor e sofrimento – bem verdade que estes só são percebidos pelos que têm empatia e compaixão. Parece tão óbvia a necessidade pela prudência, mas fica a pergunta: O que foi feito dela?