Faltam-me quatro anos para atingir a condição legal de idoso. Enquanto isso, preciso ficar atento para não parar nas vagas verdes vazias, que teimam em me chamar nos estacionamentos lotados, mesmo em tempos de pandemia. Alguns dirão que quatro anos passam rápido. Mas sei que em outras situações, como para os atletas olímpicos por exemplo, quatro anos representam toda uma vida. Essas situações triviais, quase simplórias, me fazem refletir sobre um dos conceitos mais complexos com que temos de lidar no dia-a-dia: o tempo. E deixando o pensamento voar sobre este tema, fico imaginando como seria uma conversa improvável entre Einstein, Caetano Veloso, Michael J. Fox, o Dalai Lama e Fernando Pessoa, numa noite estrelada, em torno de uma fogueira, após um dia inteiro de churrasco, onde cada um daria sua visão sobre o tempo. Começando pelo mais científico dos participantes, Einstein provavelmente diria, como físico que é, que esta é uma questão relevante para os estudiosos da ciência, e que seu conceito envolveria, à primeira vista, a repetição de eventos…, o tempo necessário para a Terra dar uma volta em torno do sol; a ida e volta do pêndulo de um relógio definindo uma fração do tempo; o esgotamento de uma ampulheta definindo outra medida do tempo, e assim por diante. Para o pai da Teoria da Relatividade, este seria um caminho interessante, mas ele diria preferir a escola que define o tempo apenas como uma sequência de eventos, ou de realidades. Pensem nisso: a percepção do tempo, e consequentemente sua existência, só ocorrem porque a realidade está em constante movimento. Sem as mudanças, mesmo aquelas que decorrem da ordem natural das coisas, a sensação que teríamos é de que o tempo estaria parado, e por assim dizer, inexistiria. Deveríamos assumir que o conceito de tempo está associado, inevitavelmente, a alguma alteração da realidade, a algum fluxo de energia, ainda que fossem mudanças mínimas, externas ou internas ao observador. Mas aí atalharia Caetano, reivindicando uma visão mais artística, como a que trouxe em sua canção “Oração ao Tempo”. Nela, destacaria o sempre Novo Baiano a estrofe que diz: “sejas ainda mais vivo / No som do meu estribilho / Tempo, tempo, tempo, tempo / Ouve bem o que eu te digo / Tempo, tempo, tempo, tempo”. Para o irmão de Bethânia, este conceito de tempo envolveria ritmo, que poderia ser binário, ternário ou quaternário, e a diferença que cada um faria, e a emoção que suscitaria. Mas aí Michael J.Fox, o eterno Marty Mcfly, resgataria uma de suas obras mais emblemáticas – a saga “De volta para o futuro” e, sem ficar restrito a ela, citaria ainda obras como “Nunca te vi, sempre te amei”, e mesmo os mais recentes “Vingadores: Ultimato” e a série alemã “Dark”, entre outras. Para Fox, todas trariam, sob o prisma da sétima arte, os riscos envolvidos em uma eventual viagem de volta no tempo. E sejamos sinceros… muitos de nós já tivemos vontade de sentar em um De Lorean e, voltando ao passado, refazer alguma questão mal resolvida em nossa história. Mas aí o próximo em nossa roda de conversa, o venerável Dalai Lama, veria a oportunidade para resgatar um de seus pensamentos mais marcantes, no qual afirma que “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. Disse o Dalai ser este um dos pilares de diversas religiões orientais, bem como da filosofia japonesa do Ikigai (papo para outro texto), que pode ser resumida em “estar no aqui e agora”. Pensando nisso, percebemos que muitas pessoas se perdem no passado, remoendo suas culpas e se alimentando de uma realidade que não podem mudar, ou apenas vivem olhando para o futuro, pensando naquilo que poderia vir a ser. “Brilhantes visões”, exclamou o membro lusitano desta improvável Liga Extraordinária. E sem deixar a peteca cair, aquecido pelas palavras e pelo arder da lenha, defenderia a essencialidade deste precioso ativo, o tempo, “…porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”. Nossa, como teria sido boa essa conversa!
Autor: Maurício Martins
Autores citados: Cazuza, Einstein, Caetano Veloso, Dalai Lama