“Não digas que darás, mas dá! Nunca satisfarás a esperança!” (Johann Goethe)
Mário Sérgio Cortella fala que a diferença dos sonhos e dos delírios está na possibilidade de realização do desejo. Quem deseja o impossível delira! Mas, a partir disso, me valho do filósofo para tratar do tema esperança. Para Cortella, a esperança é importante na vida, mas ela deve ser um substantivo ligado ao verbo esperançar e não ao verbo esperar. “Espero que dê certo, espero que resolva. Isso é espera, não esperança.” (Cortella). Talvez por ver sempre a esperança das pessoas em esperar, e por não gostar de frustração, sempre vi a esperança como um ardil, uma armadilha. Por vezes, uma armadilha de enganadores e, por outras, de auto-sabotadores. Muitos se valem da esperança para solução de suas vidas, justificando omissões ou inações. Veja por exemplo os que vivem da esperança de enriquecer do jogo. Da mesma forma aqueles que buscam mais um milagre que uma religião. Aliás, outro dia, em uma homilia, ouvi brilhante frase vinda do padre Celso Maximino: “Aqueles que buscam Jesus pelo milagre podem se decepcionar com a cruz”. Verdade! O grande ato de Jesus foi o sacrifício, trazendo a redenção de todos e não os pequenos milagres, independente da importância para os agraciados por estes. E aqui resta uma lição importante, pois soluções individuais pequenas podem não ter qualquer reflexo quando o problema exige uma solução que seja coletiva. Aos 13 anos, na capa de meu caderno escrevi uma frase de Nietzsche (“No fundo deveríamos saber que não há que se ter esperança em nada.”), que é uma das bases do niilismo. Minha opção foi a verdade realista. Estudo, analiso e estabeleço meu caminho, sabendo que pode dar certo ou errado, sem direito de reclamar pois eu optei e decidi. Aliás, odeio reclamações! A pessoa vive de esperança sobre o impossível – obviamente o desejo não se realiza, a pessoa se frustra e, então, reclama. A vida é dura e exige escolhas pensadas e ponderadas. Não é justa uma vida dura? Reclame com Adão ou Pandora. Nesse ponto me aproximo do niilismo e me afasto da visão quase poética de Aristóteles (“A esperança é o sonho do homem acordado.”). Ou valeria a lição de Sêneca (“Deixarás de temer quando deixares de ter esperança.”)? Um amigo me disse que as pessoas – ou há pessoas que – precisam de esperança para viver; e muitas delas não suportam a verdade. “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.” (Leon Tolstói). Entendo, mas não compreendo! A verdade é sempre libertadora e o meio de minorar a chance de errar nas escolhas da vida. OK, respeito! Mas se a pessoa quer se iludir, aceitar mentiras ou se esconder da realidade, depois que se frustrar, não venha reclamar ou colocar culpa no destino ou em Deus. Meu amigo se opõe e acha razoável o direito de reclamar e espernear dos esperançosos frustrados. Meu amigo é mais “bonzinho” que eu! Os judeus dizem que: “É bom ter esperança, mas é ruim depender dela.” Os franceses dão profunda importância à esperança (Simone de Beauvoir – “É horrível assistir à agonia de uma esperança.”, De Gaulle – “O fim da esperança é o começo da morte.”, e Bonaparte – “Um líder é um vendedor de esperança.”). Mas lembro com especial atenção, independente de ideologia política, da visão de Camus sobre a impossibilidade do socialismo-cristão. Ou você faz a história ou você espera algo de um ente superior. Não chego ao radicalismo de Camus (“Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.”) ou de Jorge Luis Borges (“A esperança é o mais sórdido dos sentimentos.”). Talvez, eles, como eu, tenhamos visto a esperança sob a ótica do verbo esperar e não do verbo esperançar. Não sei! Preciso de mais reflexões sobre a matéria. Acho que deve haver um meio termo, como em tudo. E, então, se justificaria a visão de Francis Bacon, no sentido de que “a esperança é um bom almoço, mas um mau jantar”. Minha opção pela realidade parece dura e me faria inexpugnável, mas a busca da empatia e compaixão visam um grau de flexibilidade. Tudo no caminho do meu querido poeta; “É preciso ser um realista para descobrir a realidade. É preciso ser um romântico para criá-la.” – Fernando Pessoa.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Goethe, Mario Sérgio Cortella, Celso Maximino, Nietzsche, Aristóteles, Sêneca, Leon Tolstói, Simone de Beauvoir, Charles De Gaulle, Napoleão Bonaparte, Albert Camus, Jorge Luis Borges, Francis Bacon, Fernando Pessoa
Foto: pixabay.com
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