“A gratidão não custa nada – e tem um valor imenso!” (Augusto Branco)
Muito se tem falado e discutido sobre a empatia (ou, o que é mais comum, a falta dela). Mas, para mim, a empatia traz em si, um outro sentimento tão importante quanto, que é a gratidão. É muito mais fácil sermos gratos a alguém ou gratos por algo, quando agimos com empatia. Se vivemos apenas preocupados com nós mesmos, dificilmente seremos gratos e certamente acharemos que não temos o suficiente ou que a vida não é justa com a gente… Mas, por outro lado, se tivermos por hábito olhar em volta e perceber o outro (todos e qualquer um, amigo ou desconhecido; rico ou pobre; alegre ou triste…), veremos que sempre haverá alguém com dificuldades ou problemas maiores do que os nossos. Isso é empatia e daí virá a gratidão pelo que somos, temos ou alcançamos. A gratidão está em apreciarmos e valorizarmos tudo. Piegas? Não acho… Ao contrário! Trata-se de um exercício diário e, por vezes, bastante doloroso. É um aprendizado. A frase de William Shakespeare (“Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo o que pedimos”) se encaixa bem aqui. Eu busco ser uma pessoa boa, fazer o bem e me considero, agraciada pela vida. Não que eu não passe por dificuldades. Ao contrário! Mas procuro, sempre, ver o lado bom das coisas e valorizar o que eu tenho. Então, vamos lá: tenho saúde (o que é primordial), dois filhos maravilhosos e que eu amo mais do que a mim mesma, uma família bacana, moradia própria… Tudo são flores? Não! Volta e meia passo meus perrengues, com a maioria dos mortais. Mas não esmoreço e não desisto! Antes, agradeço o tanto que tenho e conquistei e sigo na batalha. Católica, todos os dias, ao acordar ou antes de dormir, faço minhas preces e agradeço antes de pedir qualquer coisa. Ser grata também faz de mim uma pessoa melhor. A vida ensina! E isso fica cada vez mais claro para mim. Certa vez, logo após o nascimento do meu filho caçula, ele ficou muito doente, sem que os médicos descobrissem o que ele tinha. O estado de saúde dele se agravou a ponto de acharmos que o perderíamos. Naquele momento, eu me sentia a mais infeliz das criaturas, muitas vezes me perguntando porque aquilo estava acontecendo comigo e com o meu filho. Precisamos interná-lo, direto na UTI infantil. E lá, eu vi outras tantas mães, aflitas, passando por tudo aquilo que eu estava passando. Logo percebi que eu não estava sozinha. Olha aí a tal da empatia de novo… A internação durou um bom tempo e meu filho teve acesso a toda sorte de recursos médicos. Então, me dei conta que eu deveria ser grata a isso; ter acesso a bons médicos, hospital de ponta e tudo o mais. Havia uma rede de solidariedade entre as mães (sim, nós mães somos assim), uma apoiando a outra e doando leite para ajudar a outros bebes. Como não ser grata a isso? Tanto aprendizado de uma experiência tão dolorosa… E, depois de algum tempo, saí do hospital, com meu filho no colo, vivo e saudável. Mas também presenciei a dor de algumas que não tiveram a mesma sorte. Seus filhos não resistiram à doença. Sêneca diz que “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida”. Neste sentido, eu venho pagando as minhas dívidas, buscando, nestes tempos tão amargos (de pandemia e outras doenças da alma), viver bem, enfrentando as dificuldades com sabedoria e leveza, valorizando as coisas boas, agradecendo por elas, e tentando manter um olhar sempre atento ao meu próximo, conhecido ou não. Como já disse antes, não é nada fácil, mas vale muito a pena tentar!
Autoria: Márcia Siqueira
Autores citados: Augusto Branco, Sêneca e William Shakespeare