“Liderança é ação, e não posição.” (Donald McGannon)
Outro dia, recebi uma mensagem de um ex-colega de trabalho, acompanhada de um vídeo de uma palestra do Cortella. Coincidência, ou não, eu acabara de ler um livro desse badalado (com justiça) filósofo brasileiro. A mensagem era muito agradável aos ouvidos (“Você foi o único gerente inspirador que eu tive. Graças a Deus te encontrei.”), eu sabia que era de coração e não bajulação. Esse ex-colega de trabalho já está aposentado e não necessitaria me bajular, e nunca foi disso; muito pelo contrário, era dado a “sincericídios”. Naquele momento, lembrei que vários dos profissionais que liderei ainda me chamam de chefe quando me encontram, o que nunca solicitei nem mesmo quando os gerenciava. Aliás, fui gerente muito jovem e ocupei tal posição por duas décadas, o que me fez ter contato com muitos profissionais, de diversos estilos, comportamentos, níveis de conhecimento, … Cortella tem duas frases sobre liderança que gosto muito: “Liderar é assumir a atitude de animar e dar vitalidade a ideias, pessoas e projetos; inspirar é dar fôlego, preencher de vida, motivar, isto é, robustecer a vivacidade e o comportamento das pessoas.” e “Porque quem me bajula perturba minha visão crítica.”. Há algumas questões que sempre me pautaram nessa condição de liderança: 1 – me cabe descobrir em cada liderado seu maior potencial e desenvolvê-lo, 2 – só há equipe quando todos são envolvidos em um projeto comum de desenvolvimento comprometido e baseado no estímulo pessoal, 3 – líder tem que ser sincero e dar exemplo, e 4 – o sucesso é da equipe, enquanto o fracasso é do líder. Um profissional (na liderança ou não), acima de tudo, deve ter um compromisso com a técnica que representa diante da formação que teve, e isso, de cara, envolve ética. “Se a vasilha não estiver limpa, tudo que se puser dentro azedará.” (Horácio). Essa expressão em latim envolve o termo “sincerum” (sincero). A origem pode ter duas causas: o uso do mel puro (sem cera) ou o ator sem a cera usada no rosto quando da atuação no palco (sem máscara). Não há liderança sem sinceridade e transparência; tudo vai azedar. Por isso, ao tratar de liderança e ética, Paulo Ricoeur fala que a liderança real permite “vida boa, para todos e todas, em instituições justas”. Steve Jobs dizia que pagava para ter talentos que lhe dissessem o que precisava ouvir e não o que gostaria de ouvir. Por isso, independente da condição e qualificação das pessoas, não há liderança em corporações em que se solicita conivência e não opiniões técnicas, isentas e fundamentadas. E, nestes casos, também não há ética. Em instituições que falham pela técnica e/ou pela ética existem chefias, ou seja, mando e obediência cega (subserviência) ou desobediência tácita. A liderança importa sempre em humildade (aprender, ensinar, reconhecer o igual, empatia), flexibilidade, disponibilidade para inovar, permeabilidade para empreender,… E aqui se esclareça que humildade não é subserviência, e flexibilidade não é volubilidade. A flexibilidade significa a capacidade de rever posição diante de novos fatos e condições, mas com preservação de valores e princípios. Diferentemente, na volubilidade, as alterações de posições são oportunistas e circunstanciais, sem qualquer tipo de coerência; geralmente a fundamentação da mudança é claudicante ou risível. Afinal, escolhas volúveis não se apoiam em convicções! Nada mais gratificante do que saber que propiciei o desenvolvimento profissional e educacional de tantas pessoas. Receber, de vez em quando, com carinho mensagens especiais é um reconhecimento verdadeiro. Encontrar pessoas, nos locais mais inusitados, e ser lembrado como tendo influenciado positivamente na vida delas, é confortador. Saber que amigos e familiares ouviram elogios à minha pessoa enquanto profissional e líder, me traz orgulho. Certamente cometi erros, não agradei a todos, mas parece que, pela balança, tive boa quantidade de acertos. Aliás, ajudei a formar vários líderes, e Ralph Nader diz que “a função da liderança é produzir mais líderes, não mais seguidores”. Minha opção pela sinceridade, honestidade e ética podem ter me custado cargos e ganhos econômicos, mas certamente fortaleceram minha imagem como um homem digno, e isso é o que realmente importa. “A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia.” (Norman Schwarzkopf) A vida nos ensina que quando agimos corretamente, alcançamos o bem maior (paz interior), que nada tem a ver com bens materiais, com cargos ou títulos, … Eu tenho um nome, e ele me representa. Gosto de ouvi-lo solto e sem títulos, dito de forma agradável, seja por quem for, qual a posição que tenha, independente da classe econômica de inserção, a etnia, a opção sexual, … A liderança me fez exercitar o descolamento, o afastamento da soberba, o isolamento do sectarismo e o desprezo pelos preconceitos. Continuo aprendendo e dividindo o que sei, pois esse é meu agir, independentemente de qualquer posição.
Autor: Fernando Sá
Autores citados: Donald McGannon, Cortella,Horácio, Paulo Ricoeur, Steve Jobs, Norman Schwarzkopf, Ralph Nader
Foto: pixabay.com
Gerd Altmann
@gerdaltmannpixabay
Bonito texto! Fez-me lembrar quando aprendi que todo líder pode ser considerado também um profeta, pois sua missão é a de interpretar a realidade para seus liderados e, com isto, poder avaliar e oferecer orientação para as metas a serem alcançadas. Penso que podemos medir a inteligência do líder pela sua capacidade de estabelecer mais mais distantes no tempo e mais abrangentes no espaço. E, as decisões que você tomou e caminhos que decidiu trilhar, certamente não miram metas de uma única existência, nem de poucos indivíduos.
Quanto à flexibilidade mencionada, destaco um provérbio oriental, aliás, muito apropriado para os dias atuais de grandes polarizações, de Lao Tsé, que há muito adotei como lema: “Quando nasce, o homem é fraco e flexível. Quando morre é forte e rígido. A firmeza e a resistência são sinais de morte. A fraqueza e a flexibilidade, manifestações de vida.”
Agradeço pela oportunidade de cruzar seu caminho.
Paulo, seu depoimento é bem significativo, e sua participação muito bem vinda! O provérbio de lao Tsé é maravilhoso e se coduna perfeitamente com avisão do autor. Obrigado por sua colaboração! Este é o espírito do nosso Projeto! Continue nos seguindo e compartilhe com os amigos.