“Cuidado com essa palavra, porque tolerar significa suportar, aguentar.” (Mario Sergio Cortella)
Me incomoda quando algumas pessoas se dizem a favor da diversidade por serem tolerantes. A diversidade dos seres humanos deve ser respeitada e não tolerada. Primeiro, existe o famoso desconhecimento dos termos e seu uso indevido. Vivo questionando isso! Tolerância significa indulgência, condescendência, magnanimidade, transigência, benevolência, … A tolerância significa quase uma autorização por força de uma bondade caridosa de quem tolera algo ou alguém. Por isso, os “tolerantes” tendem a ser os preconceituosos enrustidos. Quando você tolera, você não respeita! Em segundo lugar, respeito é outra coisa! O respeito envolve o reconhecimento de uma situação, ainda que você não goste ou não concorde com ela. Já mencionei que, estudando nos EUA, tive uma grande oportunidade de entender, ao me debruçar sobre a primeira emenda constitucional, a diferença entre o direito de manifestação e o dever de respeito aos direitos civis. Isso diz respeito a gostar e respeitar. Lá, você pode não gostar de etnias, opções sexuais, definições de gênero, condições sociais, ideologia, …, e manifestar isso. Mas você não pode negar-lhes os direitos civis por não gostar desses grupos minoritários. Lá, nos EUA, o manifestar é livre, mas com limite e responsabilidade. Apesar de você poder não gostar – e sobre isso a lei não pode interferir, somente restando o campo da ética/moral – aqui, no Brasil, a lei proíbe a manifestação sobre o não-gostar. A lei brasileira impõe respeito à diversidade, e eu sempre defendo a imposição da lei, salvo se seu descumprimento se ampara no questionamento de legalidade ou constitucionalidade da norma, na forma jurídica própria. Sua tolerância de nada vale, ou tem qualquer importância quando temos aqui, a obrigação legal de respeitar. Apesar de se tratarem de garantias fundamentais, parece valer aqui, também, a história da lei que “pega” e que não “pega” – o que traz grande parte dos nossos problemas, no Brasil. Parece que esse “poder” de definir se a lei vale, ou não, é um sentimento mais comum em uma suposta “elite educada” com poder econômico. “Nem todos podem tirar um curso superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as qualidades de espírito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa.” (Alfred Montapert). Talvez a tolerância até deponha contra você. Você é obrigado a respeitar e pronto! Por força de lei, é assim! Ouço justificativas absurdas de preconceituosos: “há um mau exemplo”, “meus filhos podem ser negativamente influenciados”, “sempre foi assim”, “entendo que há superioridade”, “isso é contra nossa prescrição dogmática”,… Desculpe-me, mas aprenda que todos são iguais perante a lei, e entenda que: não é culpa dos outros se você não se faz o melhor exemplo ao seu filho; que o tempo passa e a sociedade se transforma; que se você não convence seus fiéis não cabe querer forçar as demais pessoas; o Estado é laico,… Em contrapartida, o dever de respeito não dá lastro ao mau uso das situações pelas chamadas “minorias”, de modo que os seus integrantes não podem, igualmente, praticar atos indevidos ou inadequados e, quando responsabilizados, se defenderem sob a alegação de terem sofrido desrespeito ou intolerância. Não há permissivo para abuso de direito ou falsa fundamentação. A ninguém! De cara, há contra senso em se alegar intolerância, pois seria reconhecer que alguém pode autorizar uma situação que a lei já protege. O que deve ser exigido é respeito! Mas também há que se dar ao respeito! Além disso, sabemos que as minorias têm sido institucionalizadas e François Chateaubriand ensina que “toda a instituição passa por três estágios – utilidade, privilégio e abuso”. Portanto, como em tudo, há limites. Sinto que esse desmedido de ambos os lados tende a gerar tensão e justificativas duvidosas de lado a lado. Isso me incomoda, pois a harmonia, que deve ser a busca da sociedade, parece indefinidamente comprometida. A regra é simples: 1) você pode gostar, ou não, ou tolerar sem manifestação; 2) você tem o dever legal de respeitar a diversidade, e 3) ninguém pode abusar de direito. O meu questionamento final é: O que você ganha em uma sociedade conflituosa ou ajudando que ela se mantenha assim? Pitágoras já dizia: “O universo é uma harmonia de contrários.”.
Autoria: Fernando Sá
Autores citados: Mario Sergio Cortella, Alfred Montapert François Chateaubriand, Pitágoras
Foto: pixabay.com
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