SUSTENTABILIDADE
O meio ambiente não é uma propriedade individual passível de destruição; é uma responsabilidade de todos protegê-lo. (Mohith Agadi)
Esse texto poderia ter várias frases de inspiração, mas, por vezes, o óbvio é o que está menos claro. E, aqui, diante da obstinação da riqueza sobre o meio ambiente, poderíamos nos valer da pergunta de Thoreau: “Qual é o uso de uma casa se você não tem um planeta tolerável para colocá-la?”. Ou poderíamos nos curvar à assertiva de Ghandi: “A Terra fornece o suficiente para satisfazer as necessidades de cada homem, mas não a ganância de cada homem.”. Sustentabilidade não é uma questão da moda, mas uma questão de uma vida boa para nós e uma vida possível para os que virão. E do jeito que anda, já não teremos um planeta que sustente nossos hábitos consumidores em poucos anos. Acredita-se que um dos grandes problemas está ao falarmos sobre algo cujo conceito nos é fugidio. Anselm Grün expressa que: “Sustentabilidade [Nachhaltigkeit] é um conceito originário da silvicultura. Devemos extrair da floresta somente o mesmo tanto que replantarmos nela. É preciso haver um equilíbrio entre retirada e aquilo que volta a crescer.” Para ele, quem espolia a natureza não só é cego para a razão, mas também atenta contra o sagrado, pois “em última análise, é na natureza que encontramos a Deus”. Aliás, a permacultura já data de quase meio século, tendo sido formalizada pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, para preconizar como plantar em equilíbrio com a natureza respeitando seus ciclos e limites. Isso nos traz a consciência de não só consumir, mas produzir e cuidar para que se tenha mais. Na falta da razão e da religiosidade sobre o assunto, a falta de sustentabilidade se faz precisa à visão de Margareth Mead de que “nós não teremos uma sociedade se nós destruímos o meio ambiente”. Mas, não custa lembrar, que a sustentabilidade não é só o meio ambiente, mas o próprio indivíduo em si, nas suas energias e relações harmônicas. Lidar com esses aspectos de forma sustentável é possível a partir do exemplo que vem da natureza. Por isso o brilhantismo das palavras de Ban Ki-moon, na ONU: “Salvar nosso planeta, tirar as pessoas da pobreza, avançar no crescimento econômico… estas são uma mesma luta. Devemos conectar os pontos entre mudanças climáticas, escassez de água, escassez de energia, saúde global, segurança alimentar e empoderamento das mulheres. As soluções para um problema devem ser soluções para todos.” Encontra-se sistematizado tal entendimento nos “17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável”, os quais foram estabelecidos pelas Nações Unidas como proposta para a humanidade. A banalização do ser humano pelo ser humano é um sinal maior de que certamente o meio-ambiente é absolutamente privado de atenção. Pretensioso seria dizer o contrário! Entende-se quando Chris Maser expressa que “o que fazemos para as florestas do mundo nada mais é que um reflexo espelhado daquilo que fazemos uns aos outros”. O mais grave está no retrocesso do tratamento dado ao assunto. Posições surpreendentemente positivas, no século passado, de líderes como Theodore Roosevelt e F Delano Roosevelt foram substituídas por discursos vazios sob a ótica da ciência, da moral e da religiosidade. Esperamos, agora, novos ares. Sob a ótica jurídica, há muito se fala em desenvolvimento sustentável, mas, na verdade, muito pouco se tem feito neste sentido. Os interesses econômicos acabam, na maioria das vezes, se sobrepondo a quaisquer outros. Embasados em um jardim do Éden onde, como excluídos, não tem-se mais a missão de cuidar e zelar, mas apenas de extrair e destruir por vingança e despeito. Sustentabilidade é uma palavra muito dita, mas pouco ouvida com efetividade. Soa como “caridade” pronunciada por um banqueiro – está igualmente desprovida de lastro. As leis ambientais e também as fundiárias, de pouco ou nada adiantam se o Poder Público não as fizer cumprir. E agora vemos um retrocesso nas normas ambientais não discutido nem planejado, apenas atendendo a interesses econômicos. Inclusive, agora, em Davos, o Brasil, em retrocesso, se une à bancada dos países que rejeitam o cuidado com o planeta por objetivar o lucro de empresas. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a dedicar um capítulo inteiro ao Meio Ambiente. Nela, foi consagrado o princípio do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, associado direta e inevitavelmente, ao direito à vida e à saúde. Mas de que adianta a letra fria da lei se não há intenção de cumpri-la? Isso sem falar nos inúmeros Acordos Internacionais firmados e, igualmente, não cumpridos. Mas a razão é clara: leis são elaboradas pelo homem que, deve, também, aplicá-las e fiscalizá-las. A questão da sustentabilidade não pode ser um discurso vazio; é uma necessidade premente com a qual o homem necessita estar comprometido se quiser continuar existindo no planeta…O esforço deve ser de todos, indistintamente, porque as consequências recairão sobre todos nós, e já estão recaindo. O Direito pode desempenhar um papel fundamental nesta luta, desde que o homem se conscientize disso. “A única forma de seguir em frente, se quisermos desenvolver a qualidade do meio ambiente, é ter o envolvimento de todos.” (Richard Rogers) Do contrário, continuaremos atuando sem efetividade e caminhando para o desastre total. Da teologia espera-se um retorno à ecoteologia do Éden, como propõe, dentre outros, Afonso Murad, onde somos os protagonistas de um cuidado para com esse jardim chamado planeta Terra. Na área da sociologia a sustentabilidade envolve uma busca de reaprender a conviver em sociedade – nosso atributo de ser homem e ser social, como bem propõe Marilena Chauí. Sob a ótica das denominadas ciências exatas precisamos de um contador que assinale o quão próximo estamos da 6ª extinção como nos afirma Elizabeth Kolbert. Vê-se, portanto, que sustentabilidade é objeto comum de diversas ciências; um assunto transversal à filosofia, à sociologia, à biologia, ao direito, à teologia, … Infelizmente, apesar de todas as ciências de envolvimento, parece faltar a visão mais importante: a individual e comprometida. A esse movimento que sentimos falta Sun Tzu chama de “mobilizar”, que é preparar tudo para enfrentar a guerra. Hoje é imprescindível que nos organizemos, cada um em sua especialidade, oferecendo sua contribuição, não financeira, mas em atitudes, para essa guerra em prol de salvar o planeta. Não adianta colonizar Marte e a Lua se não sabemos nem cuidar juntos do que já temos. Sustentar o insustentável, o que já está caído e agonizante não basta! É preciso um envolvimento real, certos dos custos, cientes das baixas, mas convictos que só a vitória garantirá a vida de todos! Aqui e agora!
Autoria: Alessandro Antunes, Leonardo Campos, Marcia Siqueira e Fernando Sá
Fontes: Mohith Agadi, Thoreau, Ghandi, Bill Mollison, David Holmgren, Anselm Grün, Margareth Mead, Ban Ki-moon, Chris Maser, Theodore Roosevelt, F Delano Roosevelt, Richard Rogers, Elizabeth Kolbert, Marilena Chauí, Afonso Murad, Sun Tzu
Foto: flickr.com Martin Knecht