Entre trapos e panos,
Na escada de entrada da igreja,
No mármore frio do inverno,
Dorme aquela figura humana.
Figura sim,
Mas o que sobrou do humano?
O sino dobra,
E com ele chega o sol,
Cruzando e iluminando
Da escada à lateral da porta.
Noite vira dia!
Também se transmuta
A estátua dormente,
O envergado e inoportuno pedinte,
Sob fugidios olhares humanos.
Os citadinos não o miram,
Desviam olhares, corpos e narizes
Da figura desumana e inferior.
Humanos citadinos? Cristandade?
No monstro alijado,
A cristandade nega Cristo,
Por ser figura fétida,
Que encerra asco e pavor.
Não há igualdade de qualquer tipo!
Nem empatia!
Nem compaixão!
Humanos de diversos tipos!
Pudessem os passantes,
Sumiriam com aquilo,
Que já não é aquele,
ao enfeiar e ridicularizar a paisagem.
“- Por que ainda existes?”, se perguntam.
Afinal, a eles, nada mais é
Que o ser abjeto que,
Por ser visível,
Sobretudo, gera culpa
E, mais que tudo,
Atrapalha o caminho –
Ainda que na porta da casa do Senhor.
Autoria: Fernando Sá
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